A artista plástica Adriana Varejão estreou bem o novo século. Nessa terça-feira à noite, no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), será aberta a exposição Azulejões, um gigantesco painel com cem telas de um metro quadrado, reproduzindo desenhos encontrados em fachadas de igrejas coloniais brasileiras. Na semana passada, a galeria Tate Modern comprou para seu acervo a obra Azulejaria Verde em Carne Viva e o bloco carnavalesco Simpatia É Quase Amor, o maior da zona sul do Rio, desfila este ano com camisetas desenhadas por ela. Blasé com o sucesso, Adriana pede que se separe os dois primeiros eventos do terceiro. "A exposição e a aquisição da obra são decorrência de um trabalho que vem de anos, que exigiu pesquisa para encontrar uma linguagem. A camiseta não tem a menor importância diante disso", avisa ela. "O pessoal do bloco pediu-me a camiseta quando eu preparava esta mostra do CCBB e nem tive tempo de criar o desenho direito. Não tem nada a ver com o meu trabalho como artista plástica." A exposição do CCBB vem sendo preparada há 11 meses. Adriana saiu pelo País fotografando azulejos de fachadas para reproduzi-los em suas obras. Ao chegar a Cachoeira, cidade do Recôncavo Baiano, encontrou uma igreja em que a restauração dos azulejos foi aleatória, desrespeitando o desenho original, criando um novo. A partir daí, ela começou a preparar Azulejões, que é também uma brincadeira com seu sobrenome. "Gostei dessa organização aleatória do desenho e trouxe para este trabalho. Só que, ao contrário do que parece, os quadros não foram organizados ao acaso, há uma árdua pesquisa para dar essa impressão." Antes de pintar, ela deu um tratamento especial às telas cobrindo-as de gesso a fim de dar-lhes o aspecto visual dos azulejos. Um processo sobre o qual ela tem controle até certo ponto, mas que resulta numa textura que Adriana chama de "craquelada" e que fica muito próxima do que seria a ampliação dessa cerâmica. "Só então faço os desenhos e os organizo de forma que a retina, ao seguir as curvas, crie um movimento quase musical", diz. "Aliás, esse trabalho tem muita relação com a música. Os quadros do mesmo tamanho funcionam como a pauta e os desenhos são a melodia que vai se desenvolvendo." No ano passado, parte das telas que integram a mostra Azulejões foram expostas na Galeria Camargo Vilaça, em São Paulo. Na vinda para o Rio, Adriana fotografou azulejos do Outeiro da Glória e criou mais quadros para o conjunto. Em São Paulo, a artista vendeu alguns múltiplos, cada um com, no mínimo quatro telas. E aqui só aceitará ofertas numa quantidade que dê para cobrir uma parede inteira. "Não se trata de uma exposição com cem trabalhos diferentes, mas de uma instalação composta por obras de um metro quadrado cada", ressalta. "Os quadros não funcionam separadamente. Precisam ser agrupados de uma forma determinada." Adriana é ciosa de sua obra. Fez a camiseta do bloco, mas garante que só cederia um de seus trabalhos para adornar roupas, caso fosse utilizado em uma campanha em que ela acreditasse. No Rock in Rio 3, teve um desenho reproduzido na parede da sala vip, mas não permitiu que o mesmo fosse colocado em camisetas, embora isso fosse resultar em um lucro expressivo. Direção - Um jeito de conduzir sua carreira que tem dado certo. Já em sua primeira exposição coletiva, em 1986, ela conseguiu destacar-se e ser convidada para fazer uma individual. "Mas só me considerei artista plástica a partir dos anos 90, quando encontrei uma direção para meu trabalho", conta ela, que lamenta não ter obra em museus brasileiros. "Nossas instituições são muito pobres e não têm como comprá-las." Entrar para o acervo da Tate Modern foi um passo à frente. As negociações com a galeria de arte que representa a artista duraram mais de seis meses e, no segundo semestre deste ano, ela faz uma exposição em Londres. Antes, em abril, Adriana leva Azulejões para o CCBB de Brasília. "Já tinha obras em outras instituições européias mas o importante nesta compra é eu ter me destacado dos artistas brasileiros e latino-americanos. Geralmente, a gente só consegue expor lá fora nessas mostras temáticas", comenta Adriana. "Agora meu trabalho fica independente da minha nacionalidade. Vale por si mesmo e não por pertencer a um grupo específico."