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Opinião | Crônica: ‘Viver é suportar, dançar e recomeçar’

Esta semana minha tia-avó fez 99 anos e dançou tango em uma festa de família, onde filhos, netos, bisnetos e sobrinhos de todas as gerações acompanhavam seus passos com emoção

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Foto do author Alice Ferraz
Minha tia não colocou a infelicidade ou felicidade dela como responsabilidade de mais ninguém e conseguiu, com isso, deixar também que cada um se responsabilize por suas escolhas. Foto: Juliana Azevedo

A longevidade do ser humano se transformou em um dos assuntos mais falados dos últimos anos. Das mais novas tecnologias aos conhecimentos milenares, a gente quer saber tudo para viver mais e melhor. Temos visto “homens experimento”, como o professor de Harvard, o americano David Sinclair, que fez do constante jejum, do bochecho com óleo de coco pelas manhãs e da cama que diminui a temperatura corporal algumas de suas armas para viver mais.

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Bem, esta semana minha tia Thereza Ralston fez 99 anos e dançou tango em uma festa de família, onde filhos, netos, bisnetos e sobrinhos de todas as gerações acompanhavam seus passos com emoção. Minha tia-avó, guardadas as devidas diferenças, assim como David Sinclair, sempre se preocupou com a saúde e olhava para o futuro com atenção.

Nas inúmeras férias que passei na Fazenda Santa Alice, onde minha tia morou a maior parte da sua vida junto com meu tio Jorge Ralston, éramos colocadas à prova com novos e melhores hábitos.

Comida com pouco tempero, muitas verduras e legumes, banhos de piscina com água da fonte e gelada, longas caminhadas e noites de sono que começavam cedo. Mas é superficial olhar o corpo só como essa máquina onde ajustes finos podem nos levar mais longe. No caso da minha tia, tudo isso acontecia embalado em uma vida cheia de sentido e vontade de viver.

Quando meu tio, o amor da sua vida, morreu, minha tia sofreu muito, mas conseguiu se reorganizar internamente para o novo momento. Assim, aos 76 anos, começou a fazer aulas de dança, resolveu fazer aulas de inglês, alemão e francês, além das aulas no computador, como ela dizia. Minha tia tem também uma frase que espelha a forma como ela constrói seus pensamentos para enfrentar os dissabores da vida: “A gente precisa ser capaz de suportar a infelicidade dos filhos.” Como ela tem cinco, isso me pareceu uma prova da inteligência dessa mulher que entendeu que a vida dela era dela e a deles era deles.

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Minha tia não colocou a infelicidade ou felicidade dela como responsabilidade de mais ninguém e conseguiu, com isso, deixar também que cada um se responsabilize por suas escolhas.

No dia seguinte à sua festa de 99 anos, minha tia Terezinha, como é chamada, acordou agradecendo a conquista e, claro, já começou a se preparar para a festa de 100 anos.

Opinião por Alice Ferraz

É especialista em marketing de influência e escritora, autora de 'Moda à Brasileira'

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