Artes plásticas ganham novo espaço no Rio

Fruto da parceria entre a Bolsa de Artes do Rio a Galeria Milan, a Galeria Oscar Cruz será inaugurada amanhã com uma mostra de 200 trabalhos de Mira Schendel

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Por Agencia Estado
Atualização:

Um novo espaço dedicado às artes plásticas abre as portas nesta terça-feira no Rio, com uma exposição significativa, que reúne cerca de 200 trabalhos feitos por Mira Schendel entre as décadas de 60 e 80, o que lhe dá um certo caráter retrospectivo e pode ser considerada uma espécie de reintrodução da artista suíça radicada no Brasil ao mercado carioca, já que sua última mostra comercial na cidade ocorreu 15 anos atrás. A escolha de Mira para a inauguração é bastante simbólica, sinalizando a linha que a Galeria Oscar Cruz pretende seguir. Nascida de uma associação entre a Bolsa de Artes do Rio e a Galeria Milan, de São Paulo, a Galeria Oscar Cruz faz parte de uma espécie de cooperativa, que pretende potencializar os talentos de cada uma dessas instituições a aproveitar melhor as potencialidades dos mercados cariocas e paulistas. Enquanto a Bolsa de Artes tem uma larga experiência no campo da arte moderna, as duas galerias têm maior fluxo junto a colecionadores de arte contemporânea. Nada melhor do que uma associação de forças para eliminar os guetos, para levar Portinaris às coleções ditas de vanguarda e, porque não, Miras aos acervos de perfis mais conservadores. "Nosso objetivo é eliminar os guetos", afirma Oscar Cruz, que iniciou sua carreira de marchand em São Paulo há alguns anos, em parceria com Thomas Cohn - sociedade encerrada em 2001 - e retorna agora ao Rio, aproveitando a recuperação do mercado de arte carioca. A parceria selada recentemente tem inclusive um aspecto imobiliário, já que os espaços ocupados pela Milan em São Paulo e pela Oscar Cruz no Rio pertencem à Bolsa de Arte. A idéia dos dois galeristas é realizar eventos em parceria, mas não obrigatoriamente. No caso de Mira Schendel, as duas galerias representam o espólio da artista. Aliás, o publico paulistano pôde ver recentemente uma versão dessa exposição na Milan. A mostra carioca apresenta alguns trabalhos similares (principalmente aqueles emblemáticos como um sarrafo e alguns objetos gráficos da década de 60, essenciais para pontuar momentos importantes de sua produção). Mas, segundo Cruz, cerca de 80% das obras são distintas e várias delas nunca foram exibidas anteriormente ao público. A idéia da mostra é, por meio de uma ampla seleção de 200 obras, refazer o percurso da artista entre as décadas de 60 e 80, destacando sua enorme diversidade criativa. Não por acaso, a mostra amplia a seleção para além dos objetos gráficos, tradicionalmente associados ao nome de Mira. Em São Paulo, por exemplo, foram exibidos interessantes experiências da artista com decalques normalmente associados ao público infantil. Essa estratégia de criar uma espécie de cooperativa que permite às instituições potencializar suas forças inclui uma preocupação em encontrar artistas que possam ser representados em ambas as cidades, uma política de expansão em direção ao mercado externo (uma das grandes fontes de dinamismo da arte brasileira nos últimos anos) e o desejo de trazer à tona pesquisas que mereçam destaque. Mas duas características do mercado contemporâneo de arte devem ficar de fora: a rapidez com que o circuito renova seus eventos e a obsessão em descobrir sempre coisas novas. Cruz afirma que seu objetivo é realizar três ou quatro mostras de qualidade durante o ano - tomara que nos próximos eventos também seja ampliado o tempo de duração dessas exposições, já que mostra de Mira Schendel terá uma duração muito curta, sendo encerrada já no próximo dia 31 - e que não pretende estar permanentemente em busca de novidades. "Sinto um certo incômodo com a preocupação obsessiva em mostrar o que está sendo produzido neste momento", diz ele. Sorte de quem gosta de ver a boa arte brasileira.

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