Como vai a nova arte?

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Como vai a nova geração brasileira das artes visuais? Essa é a pergunta inevitável que talvez pudesse responder a exposição Nova Arte Nova, a ser inaugurada na segunda-feira no Centro Cultural Banco do Brasil de São Paulo. Mas ao reunir 82 obras de 63 artistas com idades que variam entre 20 e 40 anos, não se trata de a exposição revelar o que seria a "novíssima arte brasileira". Qualquer resposta oferecida pela mostra só poderia ser, na verdade, "ambivalente e provisória", como define o crítico, professor e curador Paulo Venancio Filho, já que estamos vivenciando o turbilhão. Convidado pelo CCBB para conceber uma exposição que tratasse da produção nacional recente, dos últimos dez anos, Venancio preferiu deixar as portas abertas para que os espectadores tirem suas próprias conclusões ao costurar livremente diálogos entre as obras dos artistas selecionados. "Evito o termo geração, que ficou muito marcado", diz o curador, fazendo referência ao desgaste da imagem que se fez de uma "Geração 80" no Brasil. Sendo assim, Nova Arte Nova, apresentada anteriormente no Rio, é uma mostra aberta, desprovida do intuito de "provar teorias" e de "revelar o novo" - e é claro que, dentro dessa linha, ficou de fora também o chavão de explorar o que seriam ?tendências? da arte do século 21. Veja galeria de fotos da mostra "As obras estão sendo testadas, os artistas ainda estão experimentando, o que permite um pouco esse estado de suspensão", diz Paulo Venancio, chamando também a atenção para o fato de ele não ser um crítico "dessa geração", mas um pensador com formação enraizada na arquitetura modernista brasileira e no construtivismo. Professor da Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro, o curador incluiu no projeto artistas que já vem acompanhando, descobriu também alguns novos criadores dentro desse processo e ainda convidou os jovens críticos Cauê Alves, Daniela Labra, Guilherme Bueno, Luisa Duarte e Marisa Flórido Cesar para que escrevessem para o catálogo textos livres sobre a contemporaneidade, independentemente de se prenderem ao corpo da mostra. A fluência dos artistas com as linguagens contemporâneas, ressalta o curador, faz com que a mostra não se feche e nem é mesmo para que seja fechada. Tanto que agora, no CCBB de São Paulo, a exposição agregou mais seis artistas que não estavam na primeira versão apresentada no Rio: André Rigatti, André Sztutman, Lia Chaia, as irmãs Julia e Joana Traub Csekö e Bruno Dunley. Nova Arte Nova é pura diversidade (há um pouco de tudo, pinturas, objetos, esculturas, vídeos, fotografias que convivem independente da marca de seus gêneros), apesar de heterogeneidade e saturação serem também outros dos chavões usados para se tratar de arte contemporânea (brasileira ou não). Mas é bom ressaltar que essa característica não se transforma em problema para o espectador - mais envolvido com o circuito de artes plásticas ou não, o visitante pode prender-se em um ou outro trabalho dentro de um espaço de suspensão. Misturam-se artistas jovens já bem incluídos no circuito (por exemplo, Sara Ramo, Lia Chaia, Thiago Rocha Pitta, Henrique Oliveira, Laura Belém e Marilá Dardot) com alguns nomes de maior trajetória (entre eles, Alexandre da Cunha, Vania Mignone e Marcelo Silveira) e criadores ainda pouco ou nada conhecidos como André Sztutman e Bruno Miguel (veja no quadro ao lado). Sendo assim, o movimento do olhar se faz sutilmente entre a experiência de reconhecimento de algumas obras expostas - porque não são todas inéditas -, assim como pelo descobrimento (mesmo que pouco) de algumas novidades. A AUSÊNCIA DA OBRA-PRIMA Mas, afinal, dentro do espírito de liberdade total e trabalho em progresso, é possível delinear algumas características dessa produção do século 21? Algumas ideias são inevitáveis. Como define o curador, esses artistas criam em um momento em que "tudo pode ser revisto, revivido, reapropriado, por todos ao mesmo tempo". Ao mesmo tempo, ele ressalta que os novos criadores têm referências de artistas como Cildo Meireles e Waltercio Caldas, tendo visto e presenciado obras importantes deles, o que já é uma mudança em relação a tempos anteriores . "São artistas atentos ao contexto artístico global, mas também com forte conexão com as tendências contemporâneas brasileiras surgidas a partir da década de 1970, e mesmo antes, através da herança da crise do neoconcretismo", escreve o curador. "Há uma materialidade histórica que aparece na exposição", defende ainda. Nesses tempos, tanto para o artista quanto para o espectador, a característica latente é a fragmentação. "Mudou a relação da produção. Há 30 ou 40 anos, os artistas faziam uma exposição a cada dois anos e mostravam uma sequência mais ou menos completa de seu trabalho. Havia uma certa disciplina dada a esse ritmo. Hoje, os artistas estão participando toda semana de uma Bienal." Já uma indagação do curador desperta uma reflexão: "Estaremos de fato num outro registro histórico e andamento cultural, que se faz pela ausência das chamadas obras-primas e mesmo prescinde delas, e quem sabe até as impossibilita?"

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