Sem chuva, com atraso de 1 hora e 35 minutos, mas sem os problemas do domingo, Madonna cantou para 60 mil pessoas no segundo show da turnê Sticky & Sweet, anteontem, no estádio do Maracanã (na noite anterior foram 70 mil, segundo a produção). Nada mal para uma segunda-feira. No fim da apresentação, ela apareceu vestindo a camisa amarela da seleção brasileira de futebol e se enrolou na bandeira do Brasil. O show, de certa forma, mexeu com a rotina da cidade, mas a ida ao estádio, bem como a entrada do público, que chegou mais tarde e aos poucos, foi tranqüila. No domingo, a cantora decidiu antecipar o horário do início do show para as 20 horas pontualmente. Começou às 20h30. Na segunda, apareceu em cena só depois das 21h35, o que deixou a platéia impaciente. Momentos depois da apresentação do DJ inglês Paul Oakenfold, que tocou praticamente as mesmas músicas do domingo, os ocupantes da arquibancada ensaiaram vaias diversas vezes. Quando já passava de uma hora de atraso, o estádio inteiro começou a gritar "piranha, piranha, piranha". Mas bastou o show começar para que os fãs, animadíssimos, perdoassem seu ídolo e se jogassem na dance music. Foi um descarrego geral, um lava-almas que redimiu todo o bode do domingo. É curioso como a mídia (a televisiva, principalmente) tentou tapar a chuva com a peneira, minimizando os transtornos que ela provocou, no primeiro show, para quem ficou mais de duas horas tomando banho sem parar. Os sorridentes âncoras dos telejornais disseram que a precipitação atmosférica "não chegou a atrapalhar" a estréia da popstar no Maracanã. Queria ver se diriam o mesmo se estivessem encharcados no gramado. O pé-d?água atrapalhou, sim, e muito. Tanto é que a cantora escorregou e caiu duas vezes, teve de cantar debaixo de guarda-chuva e várias vezes assistentes de palco interferiam na cena puxando com rodo a água que se acumulava na passarela. Uniformizada com as capas de plástico, a platéia fez o máximo para compensar os problemas e manter a animação, que nem de longe foi a mesma da segunda-feira, onde também a paquera rolou mais solta. Afinal, todos podiam se ver melhor, desfilar com camisetas personalizadas e fantasias. O humor era outro. Além do clima, uma festona daquelas numa segunda-feira, com a cerveja rolando a mil e um calor agradável, pairava um leve clima de transgressão contra a rotina de tédio do dia mais estigmatizado da semana pela obrigação do trabalho. Como nos outros shows da turnê, havia um grande número de mulheres e rapazes/casais gays, turistas e alguns que também tinham ido domingo. O bom humor dava o tom. No gramado, quando um rapaz beijava uma menina, uma mulher que passava (visivelmente alterada pelo álcool) mexeu com os dois dizendo "que beijação é essa!!!", ao que ele retrucou brincalhão: "Que foi, nunca viu um casal hétero?" O tempo seco realmente fez toda a diferença em tudo. Até a própria Madonna - que na noite anterior chegou a aborrecer a platéia por insistir em cantar de improviso uma musiquinha para espantar o aguaceiro - estava mais feliz na segunda e brincou com o fato. "Vocês estão mais animados hoje?" A galera respondeu com um sonoro sim. "É porque não está chovendo." Mais manifestação de entusiasmo. "Vocês estão se divertindo?", continuou. Outra resposta positiva ensurdecedora. E ela emendou: "Eu também." Além disso, o show também não teve os problemas técnicos de domingo, em que o microfone da cantora falhou (bem como sua voz), o som ficou baixo numa das músicas e havia algo grudado no telão principal o tempo todo interferindo na imagem. Se era uma mariposa, como disseram, devia ser gigante. Madonna seguiu o roteiro de sempre, dedicou Miles Away (em performance mais bacana do que na noite anterior) "a todo mundo no Rio" e perto do fim provocou: "Mostrem para a rainha que vocês a amam", pedindo para a platéia fazer barulho. Foi no momento de interação em que ela aponta alguém do público para escolher uma música que não esteja no roteiro. No domingo foi Express Yourself, que ela cantou bem mal. Na segunda, a escolhida por um rapaz chamado Daniel foi Dress You Up. Até nisso o resultado foi melhor. No fim, a cantora fez o costumeiro gesto de demagogia dos popstars em estádio, ao vestir a camiseta da seleção brasileira de futebol, repetindo sua atitude no Morumbi em 1993. Depois, enrolou-se na bandeira do Brasil. O Maracanã, previsivelmente, mordeu a isca e urrou. Lógico que já estava programado. Durante o longo intervalo entre a saída de Paul Oakenfold e a entrada da "rainha", um técnico da equipe estrategicamente entregou uma bandeira brasileira para os fãs do gargarejo da pista VIP e foi aplaudido ao brincar com a platéia. No domingo foi diferente. Duas bandeiras do Brasil foram jogadas no palco, mas Madonna as ignorou, deixando para dois dançarinos recolherem. Anteontem ela estava inspiradíssima (segundo o site Madonna on line, foi até dançar numa festa fechada no Hotel Fasano depois do show) e o público correspondeu à altura. Azar de quem foi só no domingo e saiu com uma impressão não tão boa. Hoje, está prevista uma sessão de fotos para um editorial de moda, no Rio. Amanhã ela chega a São Paulo para a primeira de três apresentações no estádio do Morumbi. A produção devia chamar o tal homem que faz a pajelança para a chuva não cair em dia de show ao ar livre. Ninguém merece.