John Scofield é, ao lado de Pat Metheny e Bill Frisell, sinônimo de modernidade na guitarra jazzística norte-americana. Scofield gravou, entre outros, com o Soul Coughing, o Sex Mob, o Deep Banana Blackout e o Medeski, Martin & Wood. Em 2005, gravou o disco That''s What I Say, um tributo à música de Ray Charles. Isso o definiria como um artista crossover, pop, não fosse o fato de que ele também gravou com Gerry Mulligan, Chet Baker, Billy Cobham e Charles Mingus. Entre 1982 e 1985, ele gravou e excursionou com a banda de Miles Davis. É considerado um mestre da guitarra - não só pelo fato de que tem prazer em transmitir o que sabe às novas gerações, mas pela própria excelência na arte de tocar. Bom, aos 56 anos, Scofield está de volta ao Brasil a bordo do disco This Meets That, que ele lançou no ano passado pelo selo Emarcy. A procura foi tanta que tiveram de agendar um show extra no Sesc Vila Mariana. Scofield falou ao Estado por telefone, de Nova York. Como andam suas relações com a música brasileira? Bom, minha exposição à música brasileira começou ao mesmo tempo que eu conhecia o bebop. Em 1970, eu conheci Claudio Roditi e Victor Assis Brasil. Eles eram gente muito boa. Também conheci Célia Vaz. Essas pessoas me mostraram a bossa nova, que estava em ebulição naqueles dias, e eu adorei. É muito parecida com o jazz. A diferença está no ritmo, na marcação de samba, no amor pela melodia. Infelizmente, não conheci Jobim nem João Gilberto, mas Steve Swallow, o baixista que toca comigo, é amigo de João, tocou com ele nos anos 60. Ele fala muito sobre João. Steve Swallow veio ao Brasil algumas vezes, a última acompanhando Carla Bley. Carla e outros músicos, nos anos 60, levaram o jazz para o lado da vanguarda. Você ainda acredita em vanguarda hoje em dia? Acho que, hoje, é um pouco ingênuo tocar de uma forma completamente livre, como a vanguarda dos anos 60 propunha. E tem uma coisa: aqueles que tocavam de uma forma livre, bom, eles eram muito bem versados na música tradicional. Os vanguardistas tinham raízes e interesses na história da música. Ornette Coleman, por exemplo. Mas o que eles propuseram, a ênfase na improvisação, a liberdade, isso tudo serviu para abrir um pouco a cabeça dos músicos, fazendo com que hoje eles não sejam tão avessos à experimentação. A vanguarda me afetou definitivamente. Você, Bill Frisell e Pat Metheny sempre são citados como a santíssima trindade da guitarra no jazz. Sei que já tocaram juntos, mas qual seria o ponto em comum entre vocês? A conexão é que nós todos somos influenciados, como todos os músicos dos anos 70, pelo rock. Nós somos, na verdade, jazzistas, mas com uma abertura para as músicas de nossa memória: o funk, o soul, o R&B. Não vemos nada errado em tocar funk. Isso nos torna diferentes, de algum modo. Você não mencionou o hip-hop... Amo aquela batida. E eu amo aquela batida porque eu amo o funk, e eu sei de onde vem aquela batida. Também gosto muito do hip-hop, como o R&B de Ray Charles, que tem uma conexão profunda com o jazz. Você gravou muito nos anos 70 e 80 e nunca parou de gravar discos. Acaba de lançar mais um. A arte da gravação de um disco mudou muito nos dias atuais, com toda essa crise da indústria musical? Eu gravo exatamente da mesma maneira que grava antigamente. A diferença é que, hoje, com toda a tecnologia, você passa menos tempo no estúdio. Também se pode fazer discos mais baratos, o que ampliou o acesso aos estúdios e à gravação. As técnicas digitais, o Pro-Tools, tudo isso ajuda, não atrapalha. Claro que não se vende mais tanto CD quanto se vendia antigamente. O sistema de distribuição ficou diferente, mais modesto. Mas tem os shows, eles equilibram as coisas. Serviço John Scofield. Teatro do Sesc Vila Mariana (608 lug.). Rua Pelotas, 141, V. Mariana, 5080-3000. 5.ª, 18h (ingressos esgotados) e 21h. R$ 30