O pensamento muito vivo do popstar

No livro A Filosofia de Andy Warhol, artista conta como uma doença infantil o levou a desconfiar dos outros e preferir a TV

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Andy Warhol já era um grande empresário quando o livro A Filosofia de Andy Warhol foi publicado nos EUA, em 1975. Um ano antes assinara um contrato com o editor Harcourt Brace Jovanovich para publicar esse e mais outro título, uma biografia da atriz Paulette Goddard, Her, que não concluiu. Para se certificar que seus aforismos filosóficos teriam boa acolhida na mídia, Warhol fez um tour por nove cidades americanas, seguido por uma temporada européia destinada a promover o livro na Itália, França e Inglaterra. Tudo para atestar que a obra, sim, era sua, e não de sua secretária Pat Hackett, do ex-editor da Interview, Bob Colacello, ou da amiga Brigid Berlin, com a qual gravou a maior parte dos depoimentos do livro, uma mistura de memorialismo, fofocas e guia de auto-ajuda para corações desesperados. Warhol, um deprimido, resistia à entropia fazendo do livro um compêndio de citações irônicas - e freqüentemente depreciativas - sobre o amor, sexo, trabalho, morte, fama e economia. O fato de envolver tanta gente em suas produções não era sinônimo de generosidade, mas de avareza. Colacello conta, em Holy Terror, que, ao concluir cada capítulo, entregava-o a Warhol, que imediatamente telefonava para Brigid Berlin (a B. do livro), gravando sua reação e enviando a fita para que a secretária Pat Hacklett a transcrevesse e desse o retoque final. Assim, ninguém poderia reclamar direitos autorais. Paranóico, desconfiava de todos. Ele mesmo trata de explicar a origem de sua esquizofrenia logo no primeiro capítulo. No fim dos anos 1950, sentiu que atraía para si os problemas das pessoas que conhecia e procurou ajuda psiquiátrica. Tivera três colapsos nervosos quando criança e os ataques - conhecidos como dança de São Vito - sempre começavam nas férias de verão, quando não tinha nada a fazer além de ouvir rádio e deitar na cama com sua boneca. Assim, manter-se ocupado foi a fórmula que encontrou para resistir à entropia, forjando sua estabilidade pessoal em cima de uma estratégia: a de provocar atrito entre seus colaboradores. O relato biográfico mostra que Warhol também se sentiu usado pelos outros desde os 18 anos, quando dividiu com 17 pessoas um apartamento de subsolo. Nenhuma trocou confidências com ele. Só quando comprou seu primeiro aparelho de TV parou de se preocupar em manter relações próximas com outras pessoas. Dizia ter um caso com a TV e só a traiu quando descobriu o gravador, mais confiável que as estrelas da subcultura pop que freqüentavam a Factory. "As pessoas têm muitos problemas com o amor, sempre procurando alguém para ser a Via Veneto delas, o suflê delas que não afunda", conclui.

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