Sala São Paulo: se as paredes falassem...

Momentos de arte e disputa política marcam os 10 anos do palco sinfônico

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Foto do author João Luiz Sampaio

Em dez anos de atividade, a Sala São Paulo transformou-se no grande palco da vida sinfônica brasileira. Como explicar tamanho sucesso? A beleza do espaço e a qualidade da acústica com certeza são dados fundamentais. Mas tão importante quanto é lembrar que ela surgiu com um plano de ocupação muito bem definido. Sede da Sinfônica do Estado de São Paulo, e símbolo de investimento maciço na atividade, a Sala São Paulo ajudou a mostrar o sentido da existência de uma orquestra na vida cultural de uma cidade e de um país. Além dos músicos em si, abriga centro de documentação, escola de música, loja de discos e livros, editora de partitura de compositores brasileiros. Tocar ali virou sinal de prestígio. E, talvez até mesmo por isso, os corredores da sala ouviram alguns dos principais acordes de bastidores da vida musical do País. O binômio nova sala/nova orquestra pegou Brasil afora. Não foi por acaso que, no Rio, a prefeitura construiu a Cidade da Música, centro de excelência arquitetônica projetado (mas ainda não finalizado) para abrigar a Sinfônica Brasileira. Ou então que movimentos recentes de reestruturação de grupos sinfônicos em Belo Horizonte, Porto Alegre e Brasília tenham surgido com a criação de uma nova sala de concertos listada em seus projetos. Algumas dessas orquestras, aliás, colocaram a Sala São Paulo no mapa de suas apresentações - a Sinfônica de Brasília esteve aqui no ano passado; a Sinfônica Brasileira criou uma temporada de assinaturas na sala; em setembro, chega a Filarmônica de Minas Gerais; mais: sinfônicas de Sergipe, Santos e Campinas, além das orquestras da USP e grupos de caráter privado, como a Bachiana Filarmônica, apresentam-se regularmente no palco principal da sala. Passaram pelo palco da sala artistas dos mais variados estilos, de renome nacional e internacional. Daniel Barenboim, Kurt Masur, Yuri Temirkanov, Zubin Mehta, Krisztof Penderecki, Alain Lombard, Helmut Rilling, Phillipe Herreweghe são apenas alguns nomes de uma lista de maestros internacionais que se apresentaram no espaço - ficou faltando apenas um, Claudio Abbado, que preferiu o ambiente do Municipal quando trouxe ao País a Filarmônica de Berlim. Entre as orquestras, filarmônicas de Israel, Nova York, São Petersburgo, a Staatskapelle Berlim, sinfônicas de Chicago, do Divã Ocidente-Oriente. A lista continua com pianistas, cantores de ópera, quartetos de cordas, violinistas, violoncelistas: Nelson Freire, Yo-Yo Ma, Joshua Bell, Itzhak Perlman, Martha Argerich, Antonio Meneses, Maria João Pires, Thomas Hampson, Mathias Goerne, Barbara Hendricks, Juliane Banse, etc. A importância da Sala também está ligada, porém, a questões políticas que balançaram o estbalishment musical brasileiro. A personalidade forte do maestro John Neschling ecoou por todos os cantos da Estação Julio Prestes: diretores executivos subiram e caíram, maestros se desentenderam. Em 2005, novo marco, a criação da Fundação Osesp. O projeto foi arquitetado por Neschling desde o início da reestruturação e, quando foi enfim levado a cabo, trouxe para a sala um conselho administrativo presidido pelo ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso. A Osesp virava também sinônimo de excelência administrativa. Mas seus corredores logo ouviriam brigas de bastidores entre Estado e maestro, culminando em sua demissão, no início deste ano. Pouco depois, os camarins receberiam um novo maestro, o francês Yan Pascal Tortelier, regente principal convidado até o fim do ano que vem. É ele que sobe hoje ao pódio para comemorar o aniversário. Será que ele fica no cargo? A história está apenas começando.

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