Saiu antecipadamente na Alemanha "Beim Haeuten der Zwiebel" (algo como "Descascando Cebola"), a autobiografia do Prêmio Nobel de Literatura Günter Grass, que originalmente deveria chegar às livrarias em 1.º de setembro. A editora Steidl decidiu lançar o livro 15 dias antes em conseqüência da polêmica suscitada pelas recentes declarações do escritor alemão. Grass admitiu pela primeira vez, na última sexta-feira, em entrevista publicada pelo jornal "Frankfurter Allgemeine Zeitung", ter feito parte da Waffen-SS, o corpo de elite militar do regime nazista, pouco antes do final da 2.ª Guerra Mundial. Figura capital da literatura alemã e européia nos últimos 50 anos, o escritor faz a revelação em "Beim Haeuten der Zwiebel". Há 150 mil cópias disponíveis da obra, mas muitas livrarias já informaram que, por causa do grande interesse do público, muitas já foram vendidas. Segundo a autobiografia do autor de "O Tambor" (1959), aos 15 anos ele tentou alistar-se nas forças que tripulavam os submarinos do Terceiro Reich, mas foi recusado porque era jovem demais. Ele conta ainda que, em 1944, quando tinha 16 anos, recebeu como todos os jovens nascidos em 1927, uma ordem para alistar-se no exército alemão. Grass não foi integrante das forças alemãs, mas das SS, os corpos militares de elite criados em 1940 que chegaram a contar com mais de 950 mil homens e que eram o braço de combate do regime nazista de Adolf Hitler. "Durante o último ano da guerra, a Waffen-SS não aceitava unicamente voluntários", precisou Grass em suas declarações ao "Frankfurter". Comprometido com posições de esquerda e grande amigo do ex-chanceler social-democrata alemão Willy Brandt, Grass, que além do Prêmio Nobel em 1999 recebeu o Prêmio Príncipe de Astúrias, realizou uma crítica desapiedada da reunificação alemã em vários de seus livros. Em suas novelas se misturam de uma forma nada convencional o realismo, o macabro, a fantasia e o simbolismo, sempre a serviço do tema central de toda sua obra: a culpa coletiva. Para a Fundação Nobel, que todos os anos concede o prestigiado Prêmio Nobel, o passado de Grass não é razão suficiente para revogar o prêmio dado a ele em 1999. "Nunca aconteceu e provavelmente nunca acontecerá, nem mesmo no futuro (de um prêmio ser revogado)", declarou Jonna Petterson, porta-voz da Fundação Nobel, segundo informou nesta quarta-feira a imprensa alemã. "Uma vez concedido, o prêmio é para sempre", acrescentou Petterson.
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