Ahron é o nome do simpático protagonista de David Grossman em O Livro da Gramática Interior (Companhia das Letras, 536 págs.; R$ 72,90; R$ 39,90 o e-book). Um garoto que está entrando, como o autor diz, no túnel da adolescência, e vai sofrer - como todo mundo sofre nessa fase conturbada e definidora da vida.
Ele tem 12 anos quando sua história começa a ser contada. É alegre, gosta de mágica e de ajudar em casa. Até que começa a crescer e se fecha. Cresce na idade, mas não no tamanho - tanto que sua mãe, sempre um tanto cruel, não perde a chance de comentar isso e o faz usar um sapato com salto em seu bar mitzvah.
Ahron é o filho mais novo de uma família de refugiados judaico-polonesa que vive num claustrofóbico (e essa palavra também descreve sua família) apartamento em Jerusalém. A história se passa em 1967, às vésperas da Guerra dos Seis Dias, e a tensão, daquele tempo e de sempre, é representada pela mochila de reservista do pai, sempre no canto da casa à espera, e na figura da filha mais velha, que troca a escola pelo exército a despeito da vontade dos pais.
Um livro muito sensível sobre solidão e as dores do crescimento, sobre um menino que busca um lugar e um pouco de atenção e respeito. E, nas palavras do autor, um livro sobre um artista enquanto menino, ou sobre como alguém se torna um artista apenas para ter um lugar só para si - de privacidade e intimidade. Ahron inventa esse lugar, que, no seu caso, é a linguagem. Ele cria para si um hospital para palavras doentes. As palavras usadas por outros, poluídas, são purificadas numa cerimônia íntima.
+ BABEL
Saidiya Hartman
Quatro textos de Saidiya Hartman estão no prelo. Bazar do Tempo e Crocodilo lançam a antologia de ensaios Pensamento Negro Radical, em maio, e Perder a Mãe - Uma Jornada Pela Rota Atlântica de Escravos, em agosto. A Fósforo publica, também em maio, seu ensaio O Fim da Supremacia Branca, Um Romance Americano, sobre a atualidade de O Cometa, conto de W. E. B. Du Bois que abre o mesmo volume. E em março de 2022, sai Vidas Rebeldes, Belos Experimentos, sobre jovens negras no início do século 20.
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