Indicado ao Oscar 2025 de Melhor Ator Coadjuvante por seu papel em O Brutalista, o australiano Guy Pearce, aos 57 anos, está acostumado a participar de projetos premiados e aclamados internacionalmente.
Seu primeiro papel de destaque foi em 1994 com Priscilla, A Rainha do Deserto, comédia musical na qual interpretou a drag queen Adam/Felicia. Em seguida, protagonizou Errol Flynn - Meu Ídolo Esquecido (1996), cinebiografia do ícone de Hollywood, e depois integrou o elenco de Los Angeles - Cidade Proibida (1997), thriller policial citado frequentemente como uma representação ideal do gênero noir e da sociedade americana nos anos 50.

Mas foi com Amnésia, lançado no Festival de Cinema de Veneza de 2000 e cuja efeméride de 25 anos é celebrada em 2025, que Pearce atingiu o estrelato e se tornou um dos principais atores de sua geração.
No longa-metragem escrito e dirigido por Christopher Nolan, temos a história de um homem que sofre de amnésia anterógrada empenhado em caçar o assassino de sua esposa. A narrativa notável apresenta uma estrutura não linear e inovadora, contada em duas sequências distintas: uma em preto e branco, que segue a ordem cronológica, e outra em cores, que é apresentada em ordem reversa.
O curioso é que, recentemente, em entrevista ao jornal britânico The Sunday Times, Pearce revelou odiar seu trabalho no filme. “Eu estou tendo uma crise existencial. Eu assisti a Amnésia outro dia e ainda estou deprimido. Eu estou uma merda no filme. Eu nunca pensei isso antes, mas eu fiz essa sessão de perguntas e respostas sobre o filme no começo do mês [de janeiro] e decidi vê-lo de novo. Mas enquanto ele rodava, eu percebi que odiava o que estava fazendo (...) Percebi que eu estava mal em um filme bom”, disse, antes de negar que tenha conversado com Nolan a respeito disso. “Eu acho que ele concorda comigo. É engraçado, as pessoas dizem que eu não deveria ter sido indicado por Amnésia. Acho que agora eu entendo o porquê de não ter sido”, complementou.

Isso evidencia que Pearce nutre sentimentos mistos em relação ao longa. Em janeiro, ao Estadão, ele destacou o aspecto inovador de Amnésia e rasgou elogios ao cineasta inglês. “É difícil saber às vezes por que certos filmes ressoam da maneira como fazem. Alguém uma vez me disse que Los Angeles - Cidade Proibida foi o último filme do seu tipo, e acho que Amnésia foi o primeiro filme do seu tipo”, analisou.
“Nolan iniciou um novo estilo de fazer cinema, e talvez houvessem versões desse estilo antes, mas a maneira como ele fez esse filme foi tão incomum e tão cativante. Foi uma grande honra para mim fazer parte disso. Trabalhar com aquele quadro de tempo, e ainda manter uma espécie de linha emocional que o público pudesse se sentir compelido, foi uma grande façanha de cinema. Precisou de alguém como Chris Nolan para fazer um filme assim – não há ninguém como ele, para ser honesto”, acrescentou o ator.
Após o sucesso de Amnésia, Pearce seguiu trilhando uma caminhada respeitável na indústria cinematográfica, em filmes como O Conde de Monte Cristo (2002); Uma Garota Irresistível (2006), onde dá vida ao símbolo da Pop Art Andy Warhol; Guerra ao Terror (2009); O Discurso do Rei (2010); entre outros. Na televisão, ele brilhou com a saga investigativa Jack Irish e também com os dramas da HBO Mildred Pearce (2011) e Mare Of Easttown (2021), ambos ao lado de Kate Winslet e pelos quais foi reconhecido no Emmy.
Por sua composição do magnata Harrison Lee Van Buren, Pearce recebeu sua primeira indicação ao Oscar por O Brutalista, filme que estreia em 20 de fevereiro nos cinemas do Brasil. A história segue a jornada de László Tóth (Adrien Brody), um arquiteto judeu húngaro e sobrevivente do Holocausto que emigra para os EUA.