‘Ainda Estou Aqui’ tem sessão ao ar livre no Centro Cultural São Paulo; veja como foi

Centenas de pessoas disputaram os 150 ingressos da exibição gratuita do filme com três indicações ao Oscar; neste domingo, 26, será a vez de ‘O Auto da Compadecida 2′

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Por Artur Tavares
Atualização:

O jardim suspenso do Centro Cultural São Paulo foi palco de uma exibição gratuita ao ar livre de Ainda Estou Aqui neste sábado, 25, dia do aniversário da cidade. Devido às três indicações ao Oscar deste ano, reveladas na última quinta, 23, a sessão reuniu tanto pessoas que ainda não haviam visto o filme como aquelas que aproveitaram a ocasião para revê-lo. Todas com algo em comum: uma torcida muito forte de que o longa traga ao menos uma estatueta para casa.

Exibição do filme 'Ainda Estou Aqui', no Centro Cultural São Paulo em comemoração ao aniversário de 471 anos da capital paulista Foto: Fabio Vieira/Estadao

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“A atuação da Fernanda Torres é ótima. Ela consegue transparecer todas as nuances do filme em sua atuação. É muito legal ver alguém do Brasil vivendo essa repercussão”, afirma a designer e quadrinista Jessica Serra Barreto, que aproveitou o feriado para rever o filme neste sábado. “Vibrei muito na madrugada em que a Fernanda Torres venceu o Globo de Ouro, e nesse momento me sinto revivendo a mesma esperança que tive em 1999, com Central do Brasil”, diz a estudante universitária Ligia Xavier, que ainda não havia assistido ao filme.

Às 17h30, duas horas antes do início da exibição, a fila para a retirada de ingressos já dava sinais claros de que as 150 entradas esgotariam em minutos e deixariam muita gente de fora. De acordo com a estimativa da SPCine, que promoveu a sessão, pelo menos 400 pessoas não conseguiram cadeiras para ver Ainda Estou Aqui.

Público enfrentou uma fila gigante para a exibição do filme 'Ainda Estou Aqui', no Centro Cultural São Paulo,  Foto: Fábio Vieira/Estadão

“São Paulo é uma cidade muito cara para se viver, se locomover e se entreter. Nomeações para esses prêmios fazem com que os filmes brasileiros cheguem a festivais menores, a programações de centros culturais e dos próprios CEUs. As pessoas não vão tanto ao cinema por falta de renda”, afirma Ligia Xavier.

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Entre quem ficou de fora e quem entrou, havia uma maioria de mulheres de todas as idades, algumas acompanhadas por crianças. Surpreendeu também a grande quantidade de jovens, entre elas Jaiany Barreto, de 15 anos. “Fiquei interessada em assistir depois de toda a repercussão e do prêmio vencido pela Fernanda. Pelo fato de ser estudante, também me interesso bastante pelo tema.” Já Luiza Maldonado, de 18 anos, aproveitou o sábado para rever o filme com duas amigas. “Você vê que é mesmo arte porque incomoda. É um filme que tem que ser celebrado nos dias de hoje com o cenário político global que temos.” Para a estudante, Ainda Estou Aqui merece mais vencer o Oscar “pela história que conta”.

Vista aérea do jardim suspenso do Centro Cultural São Paulo durante a exibição do filme 'Ainda Estou Aqui' neste sábado, 25. Foto: Fabio Vieira/Estadao

Em sua 12ª semana em cartaz no Brasil, com aproximadamente 4 mil sessões em todo o País e mais de 3,5 milhões de espectadores, Ainda Estou Aqui tem mostrado sucesso também nos cinemas mundo afora. No último final de semana, sua estreia registrou o primeiro lugar de bilheteria em Portugal, desbancando três blockbusters para toda a família: Mufasa: O Rei Leão, Sonic 3: O Filme e Moana 2. Nos Estados Unidos, foi a melhor première de um filme brasileiro desde Cidade de Deus, e a maior desde Central do Brasil, arrecadando 125 mil dólares em apenas três dias.

Ainda Estou Aqui está quebrando várias barreiras. É um filme nacional, um filme latino. O fato da Fernanda ter disputado com grandes nomes, vencer como melhor atriz no Globo de Ouro, é muito importante. Isso vai melhorar todo o repertório do cinema nacional, vai estimular a nova produção, vai entrar mais edital, vai entrar mais projetos, os roteiros vão melhorar, a indústria cinematográfica vai melhorar. Ela está trazendo toda uma situação nova, todos os incentivos vão melhorar, esse é um grande passo para o cinema nacional”, afirma o cineasta Kayky Avraham.

Para grande parte do público, o longa de Walter Salles ter sido indicado ao Oscar de melhor filme ao lado de pesos pesados como O Brutalista, Emilia Pérez (ainda inéditos no Brasil), Wicked e a segunda parte de Duna foi a grande surpresa da premiação.

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Num clima descontraído, muita gente na fila brincava sobre o fato do brasileiro não desistir nunca, como Lorena Oliveira, que apelou: " Não tenho certeza se acredito que Fernanda Torres vai ganhar da Demi Moore, acho que melhor filme estrangeiro é mais fácil. Mas bem que podiam falar lá na premiação: ‘eles estão no Carnaval, vamos dar um presente para esse povo!’”. Ligia Xavier concorda com a amiga sobre Demi Moore, mas, no entanto, acredita que o longa pode pintar como azarão: “Tem chances e pode surpreender, como foi com [o sul-coreano] Parasita. Ou então, vencer mesmo como melhor filme estrangeiro. Mas, acho que Demi Moore será mesmo a melhor atriz, até pela tradição que o Oscar tem de dar prêmios para pessoas que estão na indústria há muito tempo, mas nunca venceram antes.”

De acordo com a estimativa da SPCine, que promoveu a sessão, pelo menos 400 pessoas não conseguiram cadeiras para assistir 'Ainda Estou Aqui' no CCSP neste sábado, 25. Foto: Fábio Vieira/ Estadão

Esperando para entrar no show do músico pernambucano Geraldo Azevedo, que também se apresentou gratuitamente no CCSP neste sábado, o musicoterapeuta Matheus Felipe Silva Pereira ressaltou a importância temática de Ainda Estou Aqui: “Acho muito importante retomar a memória dessas pessoas. Também acho que o filme serve como um bom recorte da época, pra termos uma noção de como foi para a classe média ter passado por isso”. A artista Ana Raylander Mártis dos Anjos vai mais além: “O filme vem como uma resposta em um momento em que tentamos sobreviver frente a um mundo de muitas guerras e violências, que re-ensaia nosso passado colonial. É uma possibilidade de reinterpretarmos nosso passado frente às ficções que apagam e escamoteiam um pouco a real história dos fatos.”

Domingo também tem sessão de cinema grátis no CCSP

Neste domingo, 26, a programação cinematográfica da SPCine em parceria com o CCSP exibe também nos jardins suspensos O Auto da Compadecida 2, de Guel Arraes, gratuitamente, às 19h30. A retirada dos ingressos acontece uma hora antes.