Dicas para o 1.º fim de semana da Mostra de Cinema

Escolha bem antes de enfrentar as longas filas

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Por Agencia Estado
Atualização:

Se você achava que Pedro Almodóvar já havia feito Tudo sobre Minha Mãe, enganou-se. O filme que deu a Pedrito o Oscar de melhor produção em língua estrangeira de 1999 tinha um título enganoso, sabe-se agora. É com Volver, seu novo filme, que Almodóvar conta, de fato, ?tudo sobre minha mãe?. O filme é uma das atrações de hoje da 30ª Mostra, mas, honestamente, não há por que correr ao cinema e engrossar a fila para ver, com poucos dias de antecedência, a obra que estréia no começo de novembro. Prefira outras atrações do evento que terá neste sábado seu segundo dia para o público. Existem grandes filmes brasileiros na Mostra Brasil e, embora alguns deles também já tenham data marcada para estrear (O Céu de Suely e O Ano em Que Meus Pais Saíram de Férias), a freqüência aos cinemas justifica-se porque a Petrobras instituiu o Prêmio Petrobras de Difusão Cultural, como incentivo à distribuição, para a melhor ficção e o melhor documentário da 30.ª Mostra. A escolha será feita pelo voto popular e você, votando, poderá ajudar bastante um filme de qualidade a ganhar exposição na mídia - R$ 400 mil para a melhor ficção e R$ 200 mil para o melhor documentário podem fazer a diferença, chamando a atenção para obras que, de outra forma, talvez não tivessem visibilidade. A Mostra Brasil terá 17 longas de ficção e 14 longas documentários. Os filmes de Karim Aïnouz (Suely) e Cao Hamburger (O Ano...) não serão os únicos exibidos neste primeiro fim de semana. Fique atento também, por exemplo, para o ótimo Proibido Proibir, de Jorge Durán, com o triângulo formado por Caio Blat, Maria Flor e Alexandre Rodrigues e que é muito mais de amizade que de sexo. Durán havia feito A Cor do Seu Destino há 20 anos. Passado todo este tempo sem dirigir, ele volta com outra história sobre jovens porque, como faz questão de dizer, ele não acredita no estereótipo da juventude alienada e quer falar sobre jovens confrontados com o choque entre os dois Brasis que, na verdade, são um só - o dos excluídos e o dos que ocupam o centro do poder. A tensão social também percorre Os Doze Trabalhos, de Ricardo Elias, que revela o mundo (a cultura) dos motoboys de São Paulo de uma maneira como você nunca viu. Há belas, ou pelo menos, curiosas atrações no fim de semana - Infância Roubada (Tsotsi), do sul-africano Gavid Hood, venceu o Oscar de melhor filme estrangeiro do ano; A Soap, de Pernille Fischer Christensen, foi premiado em Berlim, com sua história da mulher insatisfeita que se liga a um transexual. Se você for esperando uma narrativa barra-pesada, vai quebrar a cara. Tem também Babel, de Alejandro González-Iñárritu, mas este é outro que já tem data marcada para chegar às salas, só que será em 19 de janeiro. Um Bom Ano, de Ridley Scott, estréia antes, em 8 de dezembro. E Os Infiltrados, terceira decepção consecutiva de Martin Scorsese com Leonardo DiCaprio (após Gangues de Nova York e O Aviador) é outro que já está chegando - estréia em 10 de novembro. Ainda sem data de estréia, mas já comprado para o Brasil, A Comédia do Poder, de Claude Chabrol, traz Isabelle Huppert em grande atuação como a magistrada que combate a corrupção e o que o diretor diz sobre o assunto, especialmente em pauta no Brasil, em pleno processo eleitoral, é muito interessante. Chabrol não se deixa iludir pela comédia do poder e sua crítica ao moralismo é arrasadora. Sonhos de Peixe, que o russo Kiril Mikhanovsky realizou no Nordeste, encantou os irmãos Dardenne, em Cannes - onde concorreu à Caméra d?Or -, e você talvez ache interessante a maneira como sua história engloba, lá pelas tantas, a de A Máquina, de João Falcão (é verdade que sem a mesma criatividade que o público brasileiro, aliás rejeitou, pois o filme foi um grande fracasso). Anche Libero Va Bene assinala a estréia do ator italiano Kim Rossi Stuart na direção. É um drama familiar sensível, centrado na relação entre pai e filho e com uma personagem feminina inusitada - a mãe que prefere se prostituir a cuidar da cria. Por falar em Itália, o que você não pode perder é a retrospectiva do cinema político italiano, que vai permitir a revisão de uma tendência que foi importante nos anos 60 e 70. Em pleno ardor revolucionário, os críticos da época discutiam se a estética dos filmes políticos era eficiente, politicamente, porque a maioria era de filmes de ação, relatos policiais. Os autores que criticavam o abuso do poder pelos indivíduos não contestavam as estruturas do poder. Eram reformistas, não revolucionários, conforme o jargão da época. É o que você poderá conferir assistindo a Investigação Sobre Um Cidadão Acima de Qualquer Suspeita, de Elio Petri, e Só Resta Esquecer, de Damiano Damiani, que passam hoje. Não perca o operístico De Punhos Cerrados, de Marco Bellocchio, nem Pai Patrão, dos irmãos Taviani, ambos sobre a corrupção e a repressão familiares.

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