Diretor argentino é homenageado no festival Cine Ceará

Fernando Birri subiu ao palco para receber uma estatueta comemorativa e lembrou que era dever dos cineastas ?sonhar, mas de olhos bem abertos?

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Por Agencia Estado
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O cineasta argentino Fernando Birri foi o grande homenageado na noite de abertura do 16.º Cine Ceará, que agora ganhou o ?subtítulo? de Festival Ibero-Americano de Cinema. Birri subiu ao palco para receber uma estatueta comemorativa e lembrou que era dever dos cineastas (e dos artistas em geral) ?sonhar, mas de olhos bem abertos?. Há toda uma filosofia da arte embutida nessas palavras simples. Birri, que foi fundador da Escuela de Cine de San Antonio de los Baños, em Cuba, defende e pratica um cinema poético, porém de fundo engajado. Sonha de olhos abertos. É autor de pelo menos uma obra-prima do continente, o documentário Tire-Dié, sobre meninos de rua da Argentina. Quando, faz alguns anos, apresentou esse filme no Brasil, disse que queria sua platéia ?comovida, porém lúcida?. É uma variante do tal do sonho de olhos abertos. Imaginação, porém com os pés na terra. Depois de Birri, o festival caiu mesmo na real, com a apresentação da presidente da Fundação de Turismo local, Beatriz Furtado, dos novos editais para projetos audiovisuais do Estado. Cabe lembrar que, faz alguns anos, Fortaleza apresentou uma ousada proposta para o desenvolvimento do audiovisual, com a criação do Instituto Dragão do Mar e outras iniciativas que transformaram a cidade em importante pólo cinematográfico. Depois, por problemas políticos, tudo entrou em recesso. Tomara essa iniciativa seja retomada porque é fator importante para o audiovisual brasileiro a sua diversificação regional, fora do eixo Rio-São Paulo. Primeiro concorrente do festival mostra integridade estética E a prova maior do valor dessa diversidade veio no longa apresentado como primeiro concorrente do festival, o cearense As Tentações do Irmão Sebastião, proposta radicalmente autoral do diretor José Araújo (de O Sertão das Memórias). O filme, que se passa em três momentos - na antiguidade romana, nos anos 90 e num caótico futuro, em 2030 - mostra a busca existencial-religiosa de Sebastião, tentado pelas forças do mal e pelos apelos da carne, em busca da ascese religiosa. O assunto parece indigesto e não deixa mesmo de sê-lo. Mas há uma tal integridade no projeto, uma tamanha intensidade estética expressa na tela, que o mínimo que se pode fazer é respeitá-lo. Não há um único plano banal, uma única fotografia publicitária, um solitário som gratuito. Nada. Tudo serve a um projeto. Araújo parece buscar uma força de imagem e som que expressem de forma adequada a sofrida trajetória do seu personagem. Pode-se encontrar no filme todo um diálogo com o São Jerônimo, de Julio Bressane, mas também uma imersão na religiosidade popular brasileira, no imaginário sertanejo, de onde o diretor é originário, embora tenha feito carreira nos Estados Unidos. Não se sabe das possibilidades comerciais de um trabalho como este. Pouca gente apostaria que um público sequer mediano se disponha a vê-lo. Mas se você acredita que a arte deve ser também a expressão sincera do mundo interior do artista, este é um filme a ser visto.

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