Certa noite, pouco antes da cerimônia do Oscar, meu namorado decidiu assistir a Flow, o filme de animação da Letônia que acabaria ganhando o prêmio de Melhor Longa de Animação. Quando voltei para casa depois do jantar, descobri que o filme também havia capturado a atenção de outro espectador — minha cadela Daisy, uma corgi.
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Pesquise no TikTok e você encontrará diversos vídeos de cães e gatos assistindo a Flow ao lado de seus donos, parecendo se reconhecer na saga delicada, que conta a história de um adorável gatinho preto que deve trabalhar com uma equipe diversificada de outros animais para sobreviver à elevação dos níveis do mar em uma paisagem surreal.
A tendência na web é uma conclusão particularmente fofa para o que já era uma das histórias mais agradáveis da temporada de premiações, na qual o filme independente sem diálogos — feito em software de código aberto e dirigido por Gints Zilbalodis — triunfou sobre grandes produções como Divertida Mente 2 e Robô Selvagem, garantindo à Letônia seu primeiro Oscar.

Assistir a Flow no cinema é uma experiência maravilhosamente imersiva, onde o espetáculo visual do filme é exibido por completo. Em uma tela grande, você pode se perder na animação, notando o modo como a água ondula, sucumbindo à beleza e ao terror do universo pelo qual este pequeno gatinho está tentando navegar.
Assistir a Flow em casa (no Brasil, ele chega ao novo streaming Filmelier+ em abril) com um animal é uma experiência igualmente deliciosa, mas diferente. Você pode perceber sua atenção dividida em duas direções enquanto tenta contemplar o que tudo isso significa para seu animal de estimação e o que significa para você.
Eu, por exemplo, tentei decifrar o que estava acontecendo com Daisy. Certamente, ela não estava entendendo a alegoria sobre mudanças climáticas, mas suas grandes orelhas se levantavam enquanto ela observava o gato heróico, e eu a vi correndo até a TV em uma sequência na qual ele e sua aliada capivara caem de seu barco. Ver — ou talvez apenas ouvir — os personagens em perigo a estressou em algum nível.
Matiss Kaza, que produziu e coescreveu o filme, disse por email que ele suspeita que sejam os sons reais de animais usados na produção que atraem a atenção de nossos amigos domesticados. “Normalmente não pensamos em pets como um público-alvo potencial ao fazer filmes, mas estamos contentes que Flow tenha se mostrado uma experiência de união especial entre os espectadores e seus cães e gatos.”
Quando falei com usuários de redes sociais que postaram vídeos de suas feras domésticas reagindo a Flow, eles explicaram que seus animais normalmente não ficam tão entretidos pela tela.
Chayse Orion, 24 anos, havia visto outros posts no TikTok sobre o filme antes de decidir assisti-lo. Ele achou fofo, mas não estava prestando tenta atenção. Seu gato Fishbone estava. “Fishbone estava completamente absorto no filme”, disse Orion. “Ele estava mesmo muito interessado, o que foi realmente estranho porque nunca o vi interagir com um programa assim. Ele nunca realmente se interessou pela TV.”
Orion sabia que isso renderia um ótimo conteúdo para a internet. Não apenas começou a filmar Fishbone, como moveu a torre do gato para mais perto da TV para uma melhor visualização, de forma que colocasse Fishbone no mesmo nível de olhar de seus irmãos animados. “Na verdade, coloquei de novo ontem para ele assistir enquanto eu estava trabalhando”, ele disse. “Definitivamente é o filme favorito dele agora, com certeza.”
Daniel Gao, 32, postou um vídeo de sua gata Karma, que se parece incrivelmente com o felino desenhado por Zilbalodis. Sua legenda? “Hahaha por que ela está tão focada assim.” Gao, no entanto, admitiu para mim que Karma às vezes se afastava quando a ação estava intensa.
“Eu acho que ela estava tipo, ‘Nossa, acho que isso é assustador demais para mim, tenho que olhar para longe’”, disse Gao. “Eu me senti do mesmo jeito, também.”
Cães, como Daisy, também estão entrando na ação. Celine Orosco, 29, descobriu que seu cachorro Samson, um golden retriever, também estava investido em Flow. Ela disse que foi o primeiro filme que ele assistiu inteiro. Ele ficou particularmente animado, ela notou, sempre que o Labrador que se junta ao grupo de viajantes do gato aparecia na tela. “Ele realmente amou aquele cachorro”, ela disse.
Claro, não sabemos o que qualquer um de nossos animais está realmente pensando quando assistem a Flow. O gato preto de Gao realmente se reconheceu? Difícil dizer. Meu namorado inicialmente inferiu que Daisy gostava do lêmure que tem uma cesta cheia de bugigangas, depois pensou que talvez ela estivesse incomodada com ele. Eu sei que ela não entendeu o enredo — eu a amo, mas ela não é tão intuitiva. No entanto, ela ouviu, de certa forma, as vozes dos personagens e reagiu ao que estavam transmitindo, intrigada à sua maneira.
Ainda assim, adoramos assistir nossos pets assistindo a Flow pela mesma razão que amamos assistir a Flow. O filme entende que a antropomorfização delicada desses animais é uma ferramenta poderosa. Seus movimentos são cuidadosamente calibrados para replicar a forma como as criaturas se comportariam na vida real, mas suas ações são suficientemente humanas para fazer a história parecer relacionável.
Será que um gato, um cachorro, uma capivara, uma ave grande e um lêmure se uniriam para salvar uns aos outros caso acontecessem inundações massivas? Difícil dizer. Mas é uma boa metáfora de como a empatia pode ser salvação.
Da mesma forma, acreditamos reconhecer as personalidades de nossos companheiros peludos, sabendo muito bem que estamos mais frequentemente apenas projetando nossas próprias sensibilidades neles. Queremos acreditar que eles pensam como nós, mesmo sabendo que provavelmente não. Mas quando eles assistem a Flow como nós assistimos a Flow, nos aproximamos um pouco mais.
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