AFP - Harvey Weinstein usou seu poder e influência em Hollywood para intimidar as mulheres que o acusam de estupro, ameaçando acabar com suas carreiras se o confrontassem, afirmou a promotoria desta segunda-feira, 24, em um tribunal de Los Angeles.
O poderoso produtor se aproveitou de seu tamanho e posição como “o rei” da indústria do cinema para atacar suas vítimas em quartos de hotéis, assinalou a parte acusadora no começo do julgamento no qual Weinstein enfrenta novas acusações por ataques sexuais.
“Elas temiam que suas carreiras fossem destruídas se denunciassem o que ele havia feito”, disse o promotor de distrito Paul Thompson diante de uma sala de audiências lotada.
O produtor de sucessos cinematográficos como Pulp Fiction e Gênio Indomável, cumpre desde 2020 uma condenação de 23 anos de prisão em Nova York, também por estupro e agressão sexual, um veredicto que representou um grande acontecimento para o movimento #MeToo.
Weinstein enfrenta neste julgamento em Los Angeles 11 acusações por supostos atos cometidos em hotéis de Beverly Hills entre 2004 e 2013.
Thompson disse que os jurados ouviram testemunhos de oito mulheres que denunciam ter sido atacadas sexualmente pelo produtor, conhecido como impulsionador das carreiras de figuras como Quentin Tarantino, Ben Affleck, Matt Damon e Gwyneth Paltrow.
“Cada uma destas mulheres se pronunciou de forma independente, e não se conheciam entre si”, acrescentou.
Os jurados ouvirão os testemunhos dessas mulheres, incluindo como imploraram a Weinstein que parasse. As mulheres afirmam que Weinstein, agora aos 70 anos, ignorou suas súplicas e as estuprou, obrigando-as a fazer sexo oral nele e a vê-lo se masturbando.
Thompson mostrou uma imagem do produtor junto à ex-primeira-dama dos Estados Unidos, Hillary Clinton, para afirmar que o magnata tinha “poder com peso presidencial”.
O promotor reproduziu declarações das demandantes, que descrevem Weinstein como “a pessoa mais poderosa na indústria”, como “o rei”.
“Uma parte de mim estava pensando em fugir correndo, mas ele é um cara grande”, disse uma das mulheres aos investigadores. “Ele é grande, tem sobrepeso. É dominante”.
“Eu ainda queria trabalhar em Hollywood. Tinha medo de fazer algo por isso”, comentou outra demandante.
“Tinha medo de que algo acontecesse dentro ou fora do quarto se eu não fosse amável, por seu poder na indústria”, disse outra das acusadoras.
Como costuma acontecer com a maioria das vítimas de ataque sexual, as mulheres no caso são identificadas como “fulana de tal” para serem mantidas em anonimato. No entanto, uma delas foi identificada publicamente como Jennifer Siebel Newsom, a atual esposa do governador da Califórnia, Gavin Newsom.
Júri
Um júri formado por nove homens e três mulheres decidirá a sorte de Weinsten, que se declarou inocente de todos as acusações.
Se for considerado culpado, o produtor enfrenta a uma sentença adicional de mais de 100 anos de prisão.
As acusações de assédio e agressões sexuais contra Weinstein se tornaram públicas em outubro de 2017. Sua condenação em 2020, em Nova York, se converteu em um marco do movimento #MeToo.
Quase 90 mulheres, incluídas Angelina Jolie, Gwyneth Paltrow e Rosanna Arquette, o acusaram de assédio, agressão sexual e estupro. No entanto, alguns desses supostos crimes teriam sido cometidos antes de 1977, por isso já estariam prescritos.
O ex-produtor também foi denunciado na Justiça do Reino Unido por supostas agressões sexuais que remontam a 1996.
Além disso, este novo julgamento coincide com a estreia do longa-metragem Ela Disse, apresentado na semana passada no Festival de Cinema de Nova York e que conta as investigações de dois jornalistas do New York Times sobre o poderoso produtor.
Antes de cair em desgraça, Weinstein era uma figura imponente em Hollywood. Ao lado se seu irmão, fundou a Miramax Films em 1979, que foi vendida para a Disney em 1993.
Seus sucessos incluem Shakespeare Apaixonado de 1998, que ganhou o Oscar de melhor filme. Ao longo de décadas, acumulou mais de 300 indicações aos prêmios da Academia e levou 81 estatuetas com suas produções.