"Não mexa com os clássicos", pensaram os puristas quando a Warner anunciou que produziria um filme baseado em A Primeira Noite de um Homem (1967). O original, de Mike Nichols, revirou tabus familiares, alçou o jovem Dustin Hoffman ao estrelato e eternizou Anne Bancroft como a sedutora Sra. Robinson. No novo projeto, estavam escalados a atual queridinha da América Jennifer Aniston, Kevin Costner e a eterna Shirley MacLaine. Ninguém entendeu nada. É uma desnecessária refilmagem? Uma equivocada continuação? Felizmente, Dizem por Aí..., que estréia neste fim de semana, não é nada disso. E quem explica melhor é o diretor Rob Reiner, de Harry e Sally e Conta Comigo. "Acho que a platéia ficaria frustrada se tentássemos fazer uma seqüência", diz Reiner, que jura que a idéia nem sequer foi cogitada. "O primeiro filme serviu apenas de ponto de partida para nosso projeto". A premissa é instigante, ainda mais para quem curte o original. Em A Primeira Noite de um Homem, Benjamim (Hoffman) era um jovem sem rumo. Após a faculdade, ele volta para a casa da família em Pasadena, um suntuoso subúrbio de Los Angeles, e tem um caso com a mulher do sócio de seu pai. Até se apaixonar pela filha dela e o escândalo vir à tona. Dizem por Aí... brinca com o boato de que a história - primeiro contada em livro de Charles Webb e depois adaptada para o cinema - foi baseada em um caso verídico. Em 1997, Sarah (Jennifer) é uma redatora de obituários no New York Times que acaba de aceitar o pedido de casamento do namorado Jeff (Mark Ruffalo). Ela tem medo de compromisso, não sabe bem o que quer da vida e sente-se incomodada ao visitar sua família em Pasadena. "O filme gira em torno da jornada emocional pela qual a personagem de Jennifer passa para entender quem ela é e por que se sente deslocada naquela família", diz o diretor. A cabecinha de Sarah funde de vez quando ela descobre que sua própria família foi a inspiração para A Primeira Noite de um Homem. Antes de se casar, sua mãe, já falecida, teve um caso com Beau Burroughs, que também foi amante da nada convencional avó de Sarah, Katherine (Shirley MacLaine). Desconfiada de que seria filha ilegítima desta paixão secreta, Sarah vai procurar Burroughs (Kevin Costner), agora um milionário. É claro que o maior atrativo de Dizem por Aí... são as alusões cinéfilas. Mas a competência de Reiner e o bom timing de Jennifer para a comédia também mantêm o interesse. "Jennifer não é apenas bela e doce, é também uma atriz muito versátil, que segura tanto nos momentos cômicos como nos momentos dramáticos". Mais difícil que escolher a protagonista, porém, era imaginar como estaria a Sra. Robinson hoje? Anne Bancroft não poderia reviver o papel que a consagrou já que, na época das filmagens, ela estava debilitada pelo câncer - faleceu em junho do ano passado. "Queríamos alguém que, mesmo em uma idade mais avançada, fosse sensual como a Sra. Robinson da qual todos se lembram e Shirley fez um trabalho maravilhoso", entusiasma-se Reiner. Já Costner, propositadamente, tem pouco do inseguro Benjamim interpretado por Dustin Hoffman. Dizem por Aí... faz inúmeras referências ao filme de Mike Nichols. Mesmo assim, o filme tem vida própria e o diretor evita qualquer comparação com o clássico. Seu filme funciona também para quem não assistiu ao filme original. "Se dependêssemos das referências que as pessoas têm do primeiro filme, estaríamos perdidos, pois, dos jovens de hoje, poucos sabem do que se trata".
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