Lilia Cabral fala sobre ‘A Lista’: ‘Filme traz esperança sem demagogia ou ingenuidade’

O projeto, protagonizado pela atriz e sua filha, Giulia Bertolli, começou como peça on-line na pandemia, lota teatros até hoje e rendeu longa que estreia na Globo e conta com, entre outros, Tony Ramos e Letícia Colin no elenco

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Quando a atriz Lilia Cabral, de 67 anos, olha para trás, um filme é disparado em sua cabeça. Em 2020, como boa parte da população, ela atravessou meses trancada em casa devido à covid-19. As incertezas geraram ansiedade até que um projeto on-line bateu à sua porta para renovar as perspectivas. O entusiasmo diante de um desafio profissional só cresceu com a chance de contracenar com sua filha, Giulia Bertolli, que, hoje, tem 28 anos.

Lília Cabral vive Laurita Foto: Manoella Mello/Globo/Divulgação

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A Lista, comédia dramática escrita por Gustavo Pinheiro e dirigida por Guilherme Piva, estreou em setembro daquele ano em um teatro vazio para uma audiência conectada a computadores. Na trama, Laurita é uma sexagenária em atrito com uma jovem vizinha, Amanda, que, na pandemia, faz suas compras no supermercado. Com o tempo, as intolerâncias cedem espaço ao afeto, e as duas descobrem que são solitárias por questões semelhantes.

Desde o fim de 2021, Lilia e Giulia recebem os aplausos presenciais e, só em São Paulo, A Lista ficou em cartaz por nove meses em 2022, quando a previsão eram três. A mais recente temporada, no Teatro Carlos Gomes, no Rio, terminou no dia 2 e, em junho, a peça volta à capital paulista, no Teatro Faap. “Eu nunca imaginaria que esse projeto pudesse chegar tão longe e ganhar tanta importância na minha vida”, afirma a atriz, que ainda pode ser vista na pele da megera Maristela da novela Garota do Momento, exibida no horário das seis da Rede Globo.

Lília Cabral e Giulia Bertolli Foto: Manoella Mello/Globo/Divulgação

Na noite desta segunda, 17, Laurita e Amanda dão mais um passo largo e chegam aos lares brasileiros como protagonistas de um filme. Sob a direção de José Alvarenga Jr., o longa A Lista será lançado direto na televisão logo depois do Big Brother Brasil, por volta das 23h, e, nas próximas semanas, deve entrar no catálogo do Globoplay. “Assim que estreamos no Rio, comecei a visualizar essa ideia à medida que conversava com o público no fim das sessões”, lembra Lilia. “As pessoas comentavam sobre personagens que eram apenas citados com intimidade e falavam ‘olha, eu tenho uma vizinha igual a fulana” ou ‘a minha tia parece a beltrana’.”

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Rodado entre maio e junho, o filme tem o roteiro assinado pelo autor da peça, Gustavo Pinheiro, com colaboração de Giulia Bertolli e supervisão de Marcelo Saback. Tramas paralelas, como a relação de Laurita com a filha, Carolina (interpretada por Letícia Colin), e o reencontro com o seu amor de juventude, Antero (papel de Tony Ramos), são aprofundadas, e aqueles personagens que, no teatro, eram só mencionados se materializam no audiovisual.

Tony Ramos e Lília Cabral em 'A Lista' Foto: Manoella Mello/Globo/Divulgação

Reginaldo Faria, Tony Tornado e Rosamaria Murtinho aparecem como vizinhos das protagonistas. Anselmo Vasconcellos é o síndico do prédio, e Betty Faria vive uma paciente que encontra Laurita em um laboratório de exames. “A história se passa em Copacabana, um bairro carioca com um grande número de idosos”, explica Pinheiro. “Eu sugeri para a Globo que a gente abrisse pequenas participações para estes artistas veteranos que, além de homenageá-los, daria um molho especial ao filme.”

Se a peça era focada na pandemia, Lilia avisa que, na tela, a crise sanitária ficou em segundo plano, e Laurita e Amanda ganharam contornos solares mesmo em seus conflitos dramáticos. Para a atriz, a solidão causa maior impacto porque, mesmo livres e circulando pelas ruas, as duas fazem saltar os respectivos temperamentos difíceis. “As pessoas podem não mudar seus comportamentos, mas é possível que reavaliem a sua visão em relação ao mundo e aos outros”, diz. “Por isso, o filme ficou mais poético e traz esperança sem demagogia ou ingenuidade.”

Em mais de quatro décadas de carreira, a paulistana Lilia Cabral Bertolli busca exercitar constantemente a sua forma de enxergar o mundo e a profissão. Formada pela Escola de Arte Dramática da USP, ela despontou com a peça Feliz Ano Velho, adaptação do livro de Marcelo Rubens Paiva, em 1984 e, no fim do mesmo ano, estreou na Rede Globo como a fútil Margarida da novela Corpo a Corpo. Coleciona personagens marcantes como a Aldeíde de Vale Tudo (1988), a Marta de Páginas da Vida (2006) e a Griselda de Fina Estampa (2011) e alcançou um prestígio que lhe permite negociar os próprios projetos com os executivos da emissora. “Eu sou bem transparente no que penso e falo e sei que as pessoas me ouvem porque sabem que nunca deixei de ouvir ninguém nas minhas relações de trabalho.”

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A Lista é o terceiro espetáculo consecutivo de Lilia que ganha derivados na Globo. Em 2005, a intérprete estreou Divã, versão do romance de Martha Medeiros, que, em 2009, virou um filme assistido por 1,7 milhão de espectadores e, dois anos depois, rendeu um seriado. Sua peça seguinte, Maria do Caritó, escrita por Newton Moreno, gerou um longa homônimo, também produzido pela Globo Filmes, lançado em 2019.

Ciente do potencial de A Lista, Lilia convidou o diretor-geral da Globo, Amauri Soares, para assistir à peça, e ele confiou na viabilidade da proposta. “Se as portas se abrem, o artista não pode desistir das oportunidades”, diz. “Não se pode forçar nada que evidentemente não tenha chances de dar certo, mas, claro que, se o movimento estiver a nosso favor, só nos resta seguir adiante.”

O seu profissionalismo é tão grande que, mesmo para a filha e parceira na peça e no filme A Lista, Lilia economiza nos elogios. “Eu não sou coruja porque a Giulia é minha filha, eu sou uma colega coruja e tenho a maior felicidade de aplaudir outras filhas da ficção, como Andréia Horta, Alinne Moraes, Sophie Charlote e Adriana Birolli”, afirma. Para Lilia, o maior orgulho em relação à Giulia verificado em A Lista foi ver todos os profissionais do set de filmagem rendidos à sua seriedade. “Ela é atriz, escreve roteiros e tem um longo caminho para descobrir tudo o que pode fazer, mas sempre trato de lembrá-la que para ter continuidade é preciso lutar bastante”, avisa. “E quanto mais você luta, mais finca raízes e se torna difícil voltar atrás.”

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