Beto Brant, com a cumplicidade de Camila Pitanga – codiretora e filha do biografado, o ator Antônio Pitanga –, fez (ambos fizeram) de Pitanga, o filme, uma celebração da arte do encontro. Pitanga, que se identificava como Antônio Sampaio no começo de sua carreira, deu um corpo ao Cinema Novo – e esse é o tema de outro documentário, o de Eryk Rocha, também na Mostra. Um corpo em movimento, o corpo do movimento. Em Pitanga, o corpo segue ativo, mas o ator é filmado preferencialmente em conversas com amigos, familiares. Diretores com quem ele trabalhou, mulheres – atrizes – a quem amou.
O resultado é uma tripla celebração – humana, estética, política. Uma discussão sobre o negro na sociedade brasileira. Na arte, da vida. Se Brant e Camila celebram o encontro, Asghar Farhadi, em O Apartamento, vai na contramão. Desencontros, mal-entendidos. Abbas Kiarostami morreu, Mohsen Makhmalbaf não tem chegado às telas com a frequência de outrora, Jafar Panahi supera dificuldades para seguir filmando. E Fahradi? Depois do intervalo francês de O Passado, o diretor – premiado com o Oscar e o Urso de Ouro – de A Separação volta a filmar no Irã.
Um casal de atores. De cara representam numa montagem local de A Morte do Caixeiro Viajante, a peça cultuada de Arthur Miller. Só para constar, o título internacional é The Salesman, e como tal o filme recebeu o prêmio de roteiro em Cannes, em maio. Do teatro para a vida. O casal é forçado a sair de casa. Vão para um apartamento que pertenceu a uma prostituta. Na ausência do marido, a atriz, como se fosse a p..., é assediada por um antigo cliente. O marido resolve se vingar. O desencontro vira tragédia. Farhadi fez talvez o mais duro ataque à sociedade iraniana contemporânea. Como fábula moral, O Apartamento não tem concorrentes na 40.ª Mostra.