A cineasta brasileira Gabriela Lamas lançou o curta Eu Não Sou um Robô em 2021. Na trama, a personagem interpretada por ela está sozinha em casa e, após tentar passar por testes de Captcha, que diferencia humanos de robôs, questiona a realidade. Ela, então, começa a conversar com uma mosca sobre questões existenciais.
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Em 2025, um curta chamado Eu Não Sou Um Robô ganhou o Oscar de Melhor Curta-Metragem. Não foi o da brasileira, no entanto. A obra vencedora foi produzida pela cineasta holandesa Victoria Warmerdam e também traz uma personagem que se questiona sobre ser um robô ou não após não conseguir passar por testes de Captcha.

Para além do título idêntico, a semelhança dos temas, de cenas, das montagens e dos diálogos da produção europeia chamaram atenção da diretora brasileira. Em suas redes sociais, Gabriela apontou a semelhança entre as duas obras.
“Tirando a ironia disso tudo, eu acho que é super possível que duas pessoas tenham tido uma ideia igual ao mesmo tempo”, disse a brasileira. “Mesmo sendo a diretora, eu consigo dizer que essa ideia de usar o Captcha e chamar o filme de Eu Não Sou um Robô está ‘fácil de pegar’... Ali embaixo do Captcha, está escrito ‘eu não sou um robô’.”
Ao Estadão, a cineasta classificou a experiência como “muito doida”. “Se essa diretora teve a mesma ideia que tivemos, mais ou menos no mesmo período durante a pandemia, compartilhamos mesmo de um inconsciente coletivo em que períodos e acontecimentos levam a ideias semelhantes”, refletiu Gabriela.
A diretora também aproveitou a reflexão para traçar um paralelo entre a indústria cinematográfica europeia e a brasileira. Segundo ela, a semelhança entre ambos os curtas mostra como boas ideias podem surgir em qualquer lugar. Gabriela também diz admirar os esforços de Victoria Warmerdam para encontrar financiamento para o próprio curta.
“Penso que é possível acreditar no potencial de nossas ideias a ponto de ir atrás de aproveitar o que elas valem. Claro, a realidade do investimento na cultura aqui no Brasil e na Europa, infelizmente, é bem diferente. Mas espero que cada vez mais o Brasil perceba o quanto seus realizadores podem conquistar, inclusive para o país, numa arte tão importante pro capital cultural de um país quanto o cinema”, afirmou.
Quem é Gabriela Lamas?
Formada em Cinema e Audiovisual pela Universidade Federal de Pelotas em 2015, Gabriela já dirigiu três curta-metragens em sua carreira. Além de Eu Não Sou um Robô, que lançou em 2021 e disponibilizou no YouTube após o Oscar de 2025, a gaúcha também é responsável pelos curtas Sesmaria e Demônios de Virgínia.
Na trama de Sesmaria, gravada em São Lourenço do Sul, a 200 km de Porto Alegre, um velho casal de fumicultores decide interromper a própria plantação e não colher a safra pela primeira vez em mais de cinco décadas. A produção foi protagonizada pelos avós de Gabriela e, segundo ela, carrega um forte caráter autobiográfica. A obra recebeu um reconhecimento inesperado do circuito de premiações, o que alegrou a cineasta.
“Pude viajar para festivais em diversos lugares do Brasil sem nunca antes ter saído do sul do país. O cinema foi o que primeiro me levou a conhecer o Brasil. Sinto que o cinema é mais uma das linguagens que uso para me conectar ao que me é caro, ao que me é complexo”, afirmou.
Ao falar sobre sua carreira, Gabriela se define como uma “diretora que gosta de experimentar linguagem”. “Tenho forte influência do cinema fantástico e de horror, um toque de humor e muito amor pela direção de não-atores. Não sou uma diretora que produz um filme colado no outro, mas, com certeza, sou uma pessoa que tem muita vontade e disposição para levar suas ideias pra frente.”
Além da trajetória no cinema, Gabi Lamas também atua no mundo da música. Ao todo, a cantora já lançou duas canções: Princeso e Dói Demais. A sonoridade das músicas é a de um rock alternativo com pitadas psicodélicas. Nas letras, histórias de amor e de decepções amorosas.
“Canto desde os 13 anos e sempre levei a música em paralelo a outros projetos”, revelou a cineasta. “Comecei a compor em 2020, também durante a pandemia e percebi que gosto de compor com humor, dramatizando situações cotidianas e criando imagens.” Ao definir o próprio estilo, Gabriela diz que costuma fazer rock, mas que adora inserir outros ritmos e influências como pop, sertanejo e música brasileira em geral.