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Quem foi Eunice Paiva, tema do filme ‘Ainda Estou Aqui’, que comoveu o Festival de Veneza

Longa de Walter Salles com Fernanda Torres e Fernanda Montenegro é baseado no livro de Marcelo Rubens Paiva

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Por Julia Sabbaga
Atualização:

Ainda Estou Aqui, filme de Walter Salles com Fernanda Torres e Fernanda Montenegro, estreou com um sucesso estrondoso no Festival de Veneza, e já rendeu início a uma campanha pela indicação ao Oscar para Fernanda Torres. No filme, as duas atrizes interpretam Eunice Paiva, mãe do escritor Marcelo Rubens Paiva, autor do livro no qual o filme é baseado.

Fernanda Torres e Selton Mello vivem a trama 'Ainda Estou Aqui', de Walter Salles Foto: Alile Dara Onawale/ Divulgação

Quem foi Eunice Paiva?

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Hoje conhecida como símbolo da luta contra a ditadura militar, Maria Lucrécia Eunice Facciolla Paiva nasceu em São Paulo em 1929. De família de origem italiana, estou no Colégio Sion. Ávida leitora, foi amiga de grandes escritores, como Lygia Fagundes Telles, e passou em primeiro lugar na Universidade Mackenzie para o curso de Letras. Conheceu Rubens Paiva, seu futuro marido, em 1947. Ele se casaram em 1952 e tiveram cinco filhos.

Em 1962, Rubens Paiva se tornou deputado federal, e em 1964, depois do golpe militar, teve seus direitos políticos cassados. Entre 1964 e 1970, a família Paiva viveu um período de instabilidade e se estabeleceu eventualmente no Rio de Janeiro. No início de 1971, eles seriam vítimas da tragédia que lhes acompanharia para o resto da vida.

Eunice Paiva, uma das protagonistas do movimento por investigações de desaparecimentos no regime militar no Brasil após a morte do marido, o deputado cassado Rubens Paiva Foto: Arquivo Pessoal/Reprodução

Em 20 de janeiro de 1971, Rubens Paiva foi levado pela polícia da casa em que vivia com a família no Leblon. No dia seguinte, Eunice também foi presa e permaneceu 12 dias nas dependências do Destacamento de Operações de Informações do Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi) sendo interrogada. Após sua libertação, Eunice passou a questionar o que havia ocorrido com seu marido - mas não obtinha nenhuma resposta.

Em diversas cartas ao presidente Emílio Garrastazu Médici e outras direcionadas a diferentes autoridades, Eunice exigiu a verdade sobre o paradeiro do marido. Os órgãos oficiais, quando forneciam alguma resposta, davam relatos diferentes: ou que ele havia sido sequestrado por desconhecidos ou que havia fugido para Cuba.

Ao lado da estilista Zuleika Angel Jones, a Zuzu Angel, de Crimeia de Almeida, Inês Etienne Romeu, Cecília Coimbra, entre outras mulheres, Eunice se tornou símbolo das campanhas pela abertura de arquivos sobre vítimas do regime. Formou-se em Direito depois da viuvez e se tornou uma das principais forças de pressão que culminou com a promulgação da Lei 9.140/95, que reconhece como mortas as pessoas desaparecidas em razão de participação em atividades políticas durante a ditadura militar.

Foi apenas em 1996, após 25 anos de luta por verdade, que Eunice conseguiu que o Estado Brasileiro emitisse oficialmente o atestado de óbito de Rubens Paiva. A primeira prova objetiva de seu assassinato só foi encontrada 41 anos depois, em novembro de 2012, com uma ficha que confirmava sua entrada em uma unidade do DOI-Codi.

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Eunice Paiva conviveu com Alzheimer por 14 anos e morreu em 13 de dezembro de 2018, em São Paulo, aos 86 anos.

O livro de Marcelo Rubens Paiva

Ainda Estou Aqui, livro de 2015 de Marcelo Rubens Paiva, conta a história de sua mãe, Eunice Paiva, e como sua família lidou com o desaparecimento de Rubens Paiva Foto: Alfaguara/Divulgação

Em 2015, um dos filhos de Eunice e Rubens, Marcelo Rubens Paiva, contou a história do desaparecimento de seu pai e da luta de sua mãe no livro Ainda Estou Aqui. Na obra biográfica, ele divide o protagonismo com a sua mãe, relatando não apenas o esforços de Eunice pela verdade, mas sua batalha contra o Alzheimer.

Walter Salles passou sete anos na adaptação do livro para a versão que estreou no Festival de Veneza deste ano. “Durante os anos que passamos criando Ainda Estou Aqui, a vida no Brasil se aproximou perigosamente à distopia do anos 1970 - o que só tornou esta história ainda mais urgente”, disse o diretor ao festival.