Thalita Carauta, no ar com novela, estrela o drama ‘Os Sapos’ e diz que nunca vai desistir do humor

Muito lembrada por seu trabalho no humorístico ‘Zorra Total’ e vivendo a personagem Leidi em ‘Mania de Você', atriz carioca se reinventa e ganha cada vez mais espaço no drama; filme estreia no cinema nesta semana

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Foto do author Matheus Mans
Foto: Livres Filmes/Divulgação
Entrevista comThalita CarautaAtriz

É interessante observar como a atriz Thalita Carauta se transformou nos últimos 20 anos. No início dos anos 2000, era um nome marcante no programa Zorra Total, da Rede Globo, onde interpretava Janete. O tempo passou e a carioca soube se reinventar: não só passou a estar presente em mais filmes e novelas, como entrou mais no universo do drama.

É o caso de Os Sapos, estreia desta quinta-feira, 6. Dirigido por Clara Linhart e com roteiro de Renata Mizrahi, baseado em uma peça escrita por ela, o filme traz Thalita como uma mulher que vai passar alguns dias na casa de campo de um amigo. Em um dia, são várias as emoções que surgem nessa casa, quase todas elas questionando os caminhos e possibilidades dos relacionamentos.

Os Sapos trata de violências silenciosas, aquelas que nem sempre são reconhecidas como tal. Quando falamos de violência contra a mulher, muitas vezes pensamos em agressões físicas, mas existem outras formas mais sutis e igualmente danosas”, explica a atriz.

Abaixo, confira os destaques da entrevista com Thalita Carauta. Ao Estadão, ela falou sobre Os Sapos, os desafios da carreira e quais são as perspectivas para os próximos trabalhos.

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Como surgiu o convite para protagonizar ‘Os Sapos’ e qual foi seu envolvimento no processo de adaptação para o cinema?

Tem uma curiosidade interessante nisso tudo. Esse filme foi originalmente um espetáculo teatral que eu assisti há muitos anos, mais de uma década atrás. Foi uma peça super premiada, e eu fiquei muito impressionada com o texto e com a dinâmica que ele proporciona. Saí do teatro pensando como era uma peça incrível. Anos depois, conheci a Renata em outras situações e, quando o filme começou a ser produzido e a escolha do elenco teve início, ela me indicou. As coisas aconteceram de forma muito natural. Eu e Renata já nos conhecíamos; não éramos amigas próximas, mas nos cruzávamos nos teatros. Então, receber o convite para participar de um projeto que eu já admirava tanto foi muito especial. Além disso, o filme foi gravado em Lumiar, onde essa história real aconteceu, o que trouxe ainda mais autenticidade. Foi um processo muito intenso, pois estávamos saindo da pandemia, um período em que todos estavam sedentos por afeto. Como tínhamos que permanecer juntos e isolados por conta das restrições, essa proximidade acabou ajudando no processo criativo. O filme tem um tom intimista e essa convivência nos permitiu trabalhar essa intimidade de forma natural.

Esse não é seu primeiro trabalho como protagonista em um longa-metragem, mas você ainda sente aquele frio na barriga ao assumir esse papel? Como é esse processo para você?

Sempre dá um friozinho na barriga. Qualquer responsabilidade traz esse sentimento, e acho que nunca vai passar. Mas o que muda é a maneira como aprendemos a lidar com isso. Com o amadurecimento na profissão, desenvolvemos ferramentas para controlar melhor essa ansiedade. O protagonista carrega a responsabilidade de conduzir a história, mas isso não significa necessariamente que seja o melhor personagem. Nunca tive essa obsessão por protagonismo; o que me atrai é um bom personagem. No entanto, quando se assume essa função, a carga emocional é maior, e o frio na barriga faz parte do processo.

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A atriz Thalita Carauta em cena de 'Os Sapos' Foto: Livres Filmes/Divulgação

Você tem buscado cada vez mais papéis dramáticos, diferentes daqueles que te tornaram conhecida, como no ‘Zorra Total’. Como foi essa transição para abraçar o drama e explorar personagens distintos? Foi algo planejado ou aconteceu naturalmente?

Desde o início da minha carreira, minha intenção sempre foi transitar por todos os gêneros. O humor aconteceu naturalmente, pois estava em um momento de ascensão, principalmente com o formato de esquetes, como em Cócegas, de Ingrid Guimarães e Heloísa Périssé. Isso acabou abrindo portas e me direcionando para essa área. Mas chegou um momento em que senti a necessidade de experimentar outras possibilidades. Eu queria mostrar algo novo para o público e também me desafiar como atriz. Felizmente, tive apoio e credibilidade para fazer essa transição. Assim como o humor me levou a mais oportunidades dentro do gênero, ao começar a atuar em dramas, esse caminho também foi se abrindo naturalmente. Não encontrei grandes obstáculos, pois foi um movimento consciente da minha parte.

Você tem vontade de voltar ao humor no cinema ou está mais focada em outros gêneros?

Com certeza. O humor nunca vai ser uma desistência. É algo que vem comigo, algo natural. Assim como alguns atores têm talento para cantar ou dançar, eu tenho uma afinidade com o humor, e isso sempre estará presente no meu trabalho. Até porque a vida tem humor em quase tudo. O drama e a comédia caminham juntos. Muitas vezes, o que é trágico para um personagem pode ser cômico para o público. Então, independentemente do gênero principal, acho que sempre há espaço para essa dualidade.

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O que te atrai em um projeto hoje? Você se conecta mais com o roteiro, o personagem ou a direção?

Acho que é um combo. O roteiro e o personagem são fundamentais, mas também me interesso muito pela equipe envolvida. Quem são os profissionais com quem vou dividir essa jornada? Isso faz toda a diferença. No fim das contas, é como uma trincheira: quem vai estar ao seu lado importa tanto quanto a própria batalha. Então, sempre que possível, tento escolher projetos que tenham uma boa história, um personagem desafiador e uma equipe com quem eu queira trabalhar.

Thalita Carauta interpretou a personagem Leidi em 'Mania de Você' Foto: Manoella Mello/Globo/Divulgação

Entre teatro, TV e cinema, existe algum formato que você tem priorizado?

No momento, o audiovisual como um todo tem sido mais presente, seja em novelas, séries ou filmes. Já o teatro, para mim, é um espaço que exige uma proposta muito clara. Hoje, quando penso em subir ao palco, quero oferecer uma experiência marcante para o público. O teatro tem essa relação única e íntima com a plateia, então cada projeto precisa ser muito bem pensado. Talvez, no futuro, eu volte a fazer mais teatro, mas agora estou focada nos desafios do audiovisual.

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Você tem feito muita novela ultimamente, como ‘Elas por Elas’ e agora ‘Mania de Você’.

É aquela questão de aproveitar o momento em que as coisas acontecem. Fazer Os Sapos, por exemplo, foi uma alegria por abordar um assunto que interessa a todos nós, que é como a gente se coloca nas relações, o que a gente quer de relacionamento, até que ponto uma relação pode podar a sua história de vida ou até que ponto uma relação também te faz crescer. Então, poder fazer uma novela que tem outras abordagens enquanto também estou em um filme como Os Sapos é muito importante pra mim como atriz. Em alguns momentos a gente tem vontade de rir, em alguns momentos a gente fica tenso, em alguns momentos vai para um drama. Eu vou aproveitando as oportunidades. Se é novela, é novela. Vou lá me comunicar com esse público de massa, que é uma delícia. Se é filme, é filme. Qual é o público que a gente vai estar contando essa história? Como a gente pode abordar isso? E é isso. Hoje, o que aparece, procuro fazer com muito compromisso e com responsabilidade.

‘Os Sapos’, que aborda diferentes relacionamentos em uma única noite, em um único lugar, parece feito sob medida para ser exibido nos cinemas ou no teatro.

A arte precisa refletir o nosso tempo. E Os Sapos trata de violências silenciosas, aquelas que nem sempre são reconhecidas como tal. Quando falamos de violência contra a mulher, muitas vezes pensamos em agressões físicas, mas existem outras formas mais sutis e igualmente danosas. Pequenos “nãos” que não são respeitados, situações em que a mulher é anulada dentro de uma relação, pressões veladas... Tudo isso também é violência. Acho que um dos grandes méritos do filme é trazer essas discussões de forma acessível, sem didatismo exagerado, mostrando o cotidiano e permitindo que o público se identifique. Muitas mulheres passam por essas situações sem perceberem que estão sendo vítimas de algo abusivo. O cinema tem um papel importante em levantar essas questões e gerar reflexão.

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Por fim, como você vê o momento do cinema nacional, especialmente para filmes independentes como Os Sapos? Você acha que o público está voltando a olhar mais para as produções brasileiras?

Essa sempre foi uma questão delicada e continuará sendo um desafio. O cinema independente tem dificuldades de distribuição e alcance, mas vejo um movimento positivo na valorização do cinema nacional. O público está se reconectando com nossas produções e percebendo a diversidade de histórias que temos para contar. Acho que o momento é propício para fortalecer essa indústria. Precisamos continuar incentivando a produção, distribuição e exibição desses filmes para que mais pessoas tenham acesso a narrativas que falam sobre nossa cultura, nossa realidade. Espero que essa fase de reaproximação do público com o cinema brasileiro só cresça.

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