Em Cannes, em maio, Ang Lee já havia dito à reportagem do Estado que Woodstock nunca foi uma prioridade em sua vida. "Tinha 14 anos, morava em Taiwan e me preparava para o vestibular quando vi as imagens de Woodstock na TV, em preto e branco. Vivíamos sob a proteção norte-americana e as emissoras chamavam aquilo de invasão hippie dos EUA." Ele só se interessou pelo projeto de um filme quando leu o livro de Elliott Tiber. Imediatamente percebeu o potencial da história. Aconteceu em Woodstock, que estreia hoje, não é sobre o festival de música, mas sobre os três dias de paz e amor. É um filme sobre família, sobre o despertar da sexualidade de um adolescente reprimido. Ang Lee volta ao homossexualismo. Ele nega que o tema lhe interesse particularmente. "Está no livro", exime-se.
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Demetri Martin e Emile Hirsch estão no elenco (com Imelda Staunton e Liev Schreiber). Demetri é comediante conhecido nos EUA. Faz o protagonista. Hirsch fez Na Natureza Selvagem, de Sean Penn, cujo fotógrafo - Eric Gautier - é o mesmo do filme de Ang Lee. O diretor não filma o concerto, propriamente dito. Numa cena, sob os efeitos do LSD, Demetri vê o palco, à distância, como o centro do universo, em meio a efeitos psicodélicos. Ang Lee diz que não é só por uma questão de direitos que não mostra a música. "O documentário de Michael Wadleigh, de 1970, é definitivo como registro documental do que aconteceu lá." Ele se interessa, principalmente, pelo comportamento, e por isso filma a história (com H) pelo seu reverso, por meio de pequenas vidas e dramas familiares. Drama? "Há muito tempo queria fazer uma comédia que não fosse cínica. Aqui, encontrei o material."
E seus atores, o que pensam? Demetri Martin, de 35 anos, filho de um religioso grego ortodoxo, não está apenas no filme - ele é, praticamente, o filme, na medida em que está sempre em cena. Demetri é muito engraçado. Stand-up comic, ele conta que recebeu um convite do produtor e roteirista James Schamus. "Ele me chamou para conversar, falamos de música e planos, nada concreto." Um mês mais tarde, Schamus o chamou de novo e disse que Lee queria lhe mostrar o roteiro de Aconteceu em Woodstock. "Nesta altura, já estava lendo o livro. Anos 1960, Woodstock, uau! E aí cheguei ao capítulo ‘como era ser gay’ naquela época. Quando Ang me disse o que pretendia fazer, embarquei logo. Afinal, é o diretor de O Segredo de Brokeback Mountain."
Emile Hirsch faz um veterano do Vietnã, que acaba de chegar da guerra e ainda não se reintegrou à vida civil (se é que algum dia o personagem vai se reintegrar, observa o ator). "O que sabia de Woodstock era de ler e ouvir falar. Meus pais eram meio hippies, contestadores. Mas a visão oficial de Woodstock não é a mesma de quem esteve lá. Todo mundo estava chapado, as condições de higiene eram péssimas, ainda houve a chuva, o barro. Foi emocionante reviver essa história." E o nu frontal de Billy, seu personagem? "Estava no roteiro e eu fiz. Como ator, tenho de servir ao personagem."