Emissoras e indústria de eletroeletrônicos defendem, ainda que discretamente, diferentes escolhas para o padrão de transmissão da TV digital, que será adotado no Brasil no ano que vem. Até agora, foram testados no País os sistemas americano, europeu e japonês. As redes demonstram preferência pela modulação japonesa, que permite enviar sinais com qualidade superior a qualquer lugar, e pode estar nos celulares. De olho na fatia de mercado dos EUA e Europa, os fabricantes dividem-se entre o padrão americano e europeu. A Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) divulgará a escolha em outubro. Segundo o engenheiro e diretor técnico da Sociedade Brasileira de Engenharia de Televisão (SET), Carlos Capellão, as vantagens para os consórcios europeu e japonês, interessados em que seus sistemas sejam adotados no Brasil, são as receitas financeiras de direitos de propriedade intelectual, os royalties. Como a TV aberta brasileira é transmitida "pelo ar", em VHF e UHF, a opção das emissoras pelo sistema japonês é natural. As redes também querem utilizar a TV com alta definição. "Para recepção por antena, que não requer ligação física, ele é o mais apropriado", diz Capellão. Globo, Record e SBT devem investir, cada uma, cerca de US$ 100 milhões nos próximos cinco anos para trocar geradores, transmissores, antenas e equipamentos digitais. Os gastos independem do padrão escolhido. "A SET e a Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert) não fizeram recomendação à Anatel sobre qual sistema é o melhor", diz Fernando Bittencourt, diretor de Engenharia da Globo e membro da Abert. "O sistema japonês é tecnicamente superior." O diretor-regional do SBT em Brasília, Flávio Cavalcanti Júnior, diz que o sistema japonês é melhor para um País em que a maioria das casas usa antenas. "No Brasil, 80% dos lares têm recepção por antenas", diz. "Por isso, tal modulação é mais adequada." A Record, como as rivais, tem preferência pelo HDTV - a alta definição, que os europeus não usam. "A rede emitiu opinião no relatório da Abert", diz Wander Lima de Castro, gerente de Expansão da rede. "Acreditamos que a modulação deve estar próxima ao sistema que tenha alta escala mundial, como o europeu e o americano, para baixa futura de preços", diz Walter Duran, coordenador do grupo de TV digital da Associação dos Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos (Eletros) e gerente de produtos da Philips. Como o Japão só terá sinal terrestre (antena) em 2003 - até essa data as transmissões serão feitas por satélite - o mercado parece ser restrito. De acordo com Capellão, da SET, o Japão começa a vender em Tóquio televisores digitais com alta definição no próximo mês. "A expectativa é de que se vendam 1,5 milhão de TVs até o fim de 2001." Ele diz que o sistema americano vendeu até hoje 30 mil aparelhos nos EUA. Europa e Austrália ainda não produzem TVs com alta definição, objetivo maior dos brasileiros.