A segurança em São Paulo é mesmo um horror. Não faz nem uma semana que o vilão Dodi tomou posse de sua mansão, na novela "A Favorita", e três visitantes intrusos já estiveram ali.
O super Zé Bob, jornalista que deixaria no chinelo o delegado Protógenes, da nossa PF, pulou o muro. Donatella, a morta que não morreu, fez o mesmo no capítulo de ontem. E, veja, Cláudia Raia não é nenhuma pantera cor-de-rosa pra se esconder, com sucesso, atrás de pilastras. Não é fácil, para uma mulher daquele tamanho, passar despercebida. O patriarca Gonçalo, outro visitante indesejado de Dodi, só não pulou o muro porque, felizmente, a Globo ainda respeita a idade de um Mauro Mendonça e o fez chegar à casa pela porta da frente, mas que foi aberta, inconsequentemente, pela moça de família quase boa que faz par com Dodi.
Já fiz um zilhão de defesas ao enredo de João Emanuel Carneiro. Adoro "A Favorita". E o autor dribla com louvor os patrulheiros que se põem a verificar se alguém pode pegar um ônibus no Carandiru e desembarcar, em pouco tempo, no Morumbi. Isso de fato não tem a menor importância, em nada afeta a compreensão da história por um telespectador romeno que for assistir à novela do outro lado do mundo.
Mas, diacho, outros pontos derrubam até ficção, em qualquer lugar do planeta. Se há a pretensão de alinhavar conflitos contemporâneos sem recorrer a realismo fantástico ou a criaturas com superpoderes, mutantes, ETs (e o fato de José Mayer ser tratado como insano na história só endossa o realismo), há que se pedir alguma coerência.
Até Harry Potter, que voa em vassoura e aciona suas vontades por varinha mágica, obedece fielmente a uma série de códigos lógicos. Sem isso, não há enredo que cole e a platéia se dispersa.