
1) Nesses 14 anos de estrada, qual espetáculo teve mais repercussão e por quê?
Milene Perez e Wanderley Piras: Acreditamos que seja o Zabumba. Ele foi o primeiro espetáculo da Cia. e continua a ser apresentado até hoje com o mesmo vigor do começo. Foram muitas as plateias, desde crianças à 'melhor idade' e diversos espaços de apresentação, desde praças públicas a Teatros Municipais. Este espetáculo virou uma espécie de ícone para a Cia.da Tribo, pois reúne de forma espontânea a multiplicidade de linguagens contidas na cultura popular, tais como teatro de bonecos, música ao vivo, dança e interpretação inspirada no universo popular.O Bumba-Meu-Boi nos revelou uma cultura popular alem dos sacis e lobisomens. Foi a descoberta de Almeida Garret, Quinteto Romançal, Câmara Cascudo, Silvio Romero, Mestre Zé Lopes e muitas outras personalidades brasileiras.
2) Como vocês resumiriam esse tempo todo de trabalho em um parágrafo?
Milene Perez e Wanderley Piras: Aprendemos a lidar com a experiência de forma diferente. Hoje nos importa mais saber o que fazer com ela, do que com aquilo que nos aconteceu.
3) Por que é importante que o teatro infantil prossiga pesquisando a cultura popular brasileira e transformando 'folclore' em belos espetáculos como os que vocês fazem?
Milene Perez e Wanderley Piras: Porque é importante aproximar mais as pessoas do nosso país. Principalmente as crianças. Durante estes 14 anos pudemos comprovar que as crianças que tiveram contato com esta visão lúdica, através dos nossos espetáculos e oficinas, passaram a compreender e valorizar a nossa cultura. As manifestações populares com as quais trabalhamos, propõem: envolvimento, troca, cumplicidade e criatividade. Elementos presentes em todas as brincadeiras infantis, daí a grande identificação da criança com nosso trabalho e também dos pais que parecem voltar ao passado. Com isso fortalecemos a cultura popular brasileira, que ainda carece ser descoberta. Nosso objetivo é focar a importância do povo como guardião de arquétipos essenciais de nossas raízes.
4) Como se dá a integração artística entre vocês dois, que estão juntos o tempo todo?
Milene Perez e Wanderley Piras: (risos) Nada é por acaso. Talvez nossa escolha pela cultura popular tenha na verdade a ver com a nossa visão de vida. Trabalhando com esta linguagem, aprendemos a dominar múltiplas expressões e aplicamos isso durante o processo de criação dos nossos espetáculos. Alem disso, existe a questão da presença do feminino e do masculino que traz equilíbrio e conflito, justamente por serem opostos. Acreditamos desde o começo que duas pessoas e uma ideia já constituem uma "tribo". Então, durante esses anos aprendemos a transformar nosso cotidiano de casal em projetos e ideias expressivas.
5) Quais os planos futuros da Cia.?
Milene Perez e Wanderley Piras: Ao completar 14 anos, a Cia. da Tribo chega a sua adolescência (idade da vida compreendida entre a puberdade e a idade adulta). É uma fase de grandes reflexões e questionamentos. Estamos mais inquietos, ousados e sem medo de correr riscos. Que fase maravilhosa! E a partir destes estímulos nossos olhares voltam-se para trabalhos mais contemporâneos. Aliás, desde o começo, nosso objetivo foi de estabelecer uma linguagem artística que mostrasse a junção da urbe e do popular. Acontece que foi preciso todos estes anos de aprofundamento para que agora nos sentíssemos libertos para provocar "adolescentemente" esta simbiose artística. Além da Mostra, em agosto estaremos coordenando a primeira Residência Cênica do Centro Cultural São Paulo. A residência/oficina terá professores especializados em cultura popular. Serão ações da construção de um processo artístico e pedagógico, resultado da história no teatro do próprio grupo. O resultado desta residência proporcionará um espetáculo que será apresentado no CCSP, após os cinco meses de trabalho. E ainda para este ano a estreia do musical Lenga-Lenga. Dessa vez a inspiração vem das crianças brasileiras, de suas brincadeiras e seus brinquedos. Estamos brincando, jogando e nos divertindo muito durante os ensaios. Afinal, este é o espírito do espetáculo!
CONHEÇA MAIS A COMPANHIA:
Cia. da Tribo - Criada em 1996 por Milene Perez e Wanderley Piras, a Cia da Tribo mantém em seu trabalho de pesquisa sobre cultura popular a preocupação de estabelecer - através de uma linguagem urbana - um repertório que mostre a fusão de culturas. O primeiro trabalho de pesquisa do grupo foi Zabumba, um musical infanto-juvenil, cuja temática era o Bumba-Meu-Boi, com o qual recebeu diversos prêmios: APCA, Troféu Mambembe e Prêmio Coca-Cola de Teatro Jovem. As montagens foram sucessivas: "Romance", "O Coronel dos Coronéis", "Fazenda de Papel", "Dois Corações e Quatro Segredos", "Homem Palco em Contos do Brasil", "O Reisado da Borboleta, do Maracujá e do Pica-Pau", "Homem Palco em Contos D'Água", "Quem Conta, Reconta ou Faz de Conta", "Casos Cascudos" e seu mais recente trabalho "Quixote Caboclo".
SERVIÇO DA MOSTRA:
DIA 31 DE JULHO E 1º DE AGOSTO ÀS 16 HORAS - "HOMEM PALCO EM CONTOS D'ÁGUA"
SINOPSE: Apresentam três contos tradicionais do Brasil através da manipulação de dez bonecos com técnicas de vara e luva. Com o tema "água". Os contos foram inspirados em mitos indígenas e causos populares e nos contos de Câmara Cascudo.
TEATRO DE ARENA EUGÊNIO KUSNET - FUNARTE
- Mostra Cia da Tribo - 14 Anos
Rua Dr Teodoro Baima, 94 - Vila Buarque - Fone: 3256-9463
Temporada Até: 22 de Agosto
Teatro - 99 lugares // Duração: 50 min.
Sessões: Sábados e Domingos, às 16h.
Ingressos: R$ 10,00 e R$ 5,00 (classe artística, estudantes e terceira idade)