A expectativa de reabertura dos salões de beleza na cidade de São Paulo está reanimando o setor, duramente atingido pela pandemia da covid-19. Quem trabalha nesta área aguarda, segundo apurou a coluna, uma liberação no dia 26, quando João Doria anuncia mudança nas classificações (fases) das cidades. Se este desejo for concretizado, os salões já estão preparados para reabrir as portas dia 1, de forma gradual. É fato que alguns já se encontram na ativa de forma "clandestina", a portas fechadas. O que muito desagrada quem vem seguindo as regras.
Na última quarta-feira, José Augusto Santos, presidente da Associação Brasileira de Salões do Brasil, e mais gente do setor de beleza - como Cris Arcangeli e Fernanda Torres (representante de grupo gestor de salões) - se reuniram com o secretário da Casa Civil, Orlando Faria, para discutir data de reabertura. Santos contou que 15 mil salões fecharam definitivamente em SP. "Calculamos 45 mil postos de trabalho perdidos", lamenta. Fernanda, por sua vez, observou ser mais seguro o atendimento em salões, onde há como garantir cumprimento de protocolos, do que em domicílio.
Sem entrar em processo de demissões, mas ainda fechado, Wanderley Nunes, que emprega 700 pessoas, tem vídeo pronto ensinando o novo protocolo. "Tem gente fazendo depilação e massagens, já abriu shopping e nós fechados. Como é que pode?", queixa-se o cabeleireiro, com duas unidades no Iguatemi. Nesse ínterim, evitando olhar para prejuízos, está prestando consultoria ao Sebrae para ajudar, inclusive, na retomada do setor. "Tenho falado com amigos na Alemanha, NY e Londres. Não deixamos nada a dever em relação a esses países, em termos de nível de exigência." Como tantos, ele tem atendido clientes em casa.
Marcos Proença, que desligou dez pessoas da equipe, frisa só ter mais um mês de reserva financeira com o salão fechado. E conta que clientes cobraram dele a reabertura da casa avisando estarem frequentando outros salões. "É duro ouvir isso, levei anos pra chegar até aqui, fidelizar uma clientela". Proença passou boa parte da quarentena com a mãe, em Sorocaba. "Foi onde tudo começou há 12 anos, com meu pai vendendo o carro pra comprar minha cadeira de cabeleireiro", relembra. Mas está confiante na retomada. Treinou seus 200 colaboradores e na quarta-feira reúne todos, pela primeira vez, presencialmente, no salão.
Celso Kamura conta que não gosta de atender em casa. "Não tem estrutura nenhuma pra fazer serviços de beleza. Não é confortável pra eles e nem para nós, profissionais. No salão, tenho espaço adequado para um atendimento seguro".
Os três estão atentos às novas normas como distanciamento entre poltronas, barreira física na recepção, álcool em gel e etílico em todas as bancadas, uso de máscaras e face shield pelos clientes e profissionais, luvas, toalhas e capas higienizadas e embaladas uma a uma. "O salão terá ambiente muitas vezes mais seguro que a recepção de um hospital", compara Kamura.
Proença contratou uma infectologista para elaborar protocolo de reabertura de seus dois salões, após quase três meses fechado. "Precisamos agir por nós mesmos". O cabeleireiro testou negativo duas vezes pra covid-19. E, esta semana, deu início ao Proença Delivery, atendendo em casa, de máscara face shield.
/CECÍLIA RAMOS E MARCELA PAES
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