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'Caso venezuelano não é só de Roraima', afirma Carlos Wizard Martins

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Carlos Wizard Martins Foto: NILTON FUKUDA/ESTADÃO

Com seu empenho em causas sociais e o espírito prático adquirido como empresário, Carlos Wizard Martins tomou uma decisão, três semanas atrás. Foi a Roraima, falou com a prefeita de Boa Vista, Teresa Surita, e depois foi à Casa Civil, em Brasília. A seguir contatou o Exército e gente da ONU... e acabou sendo convidado pela Casa Civil para coordenar ações humanitárias junto ao setor público. Leia-se: ajudar os venezuelanos que cruzam a fronteira rumo ao Brasil. Sua ideia, como diz, e também a de estimular outros empresários a aderirem à cruzada. Promove o que está chamando de "ação humanitária sem barreiras partidárias ou ideológicas" para a qual vem convidando "cristãos ou judeus, budistas ou muçulmanos".

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Concretamente, Wizard está abrindo 200 vagas para esses imigrantes em suas empresas. À frente de grupos como Mundo Verde, KFC, Pizza Hut e Taco Bell, ele parte de uma constatação: o governo federal "não pode resolver sozinho a situação" - e a solução não está em Roraima, mas "em compartilhar o desafio com todos os Estados". Como integrante da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, tem convidado outros fiéis a acolher refugiados. E como empresário vem cooptando figuras como David Neeleman, da Azul, e o pastor catarinense Michael Aboud, da Embaixada do Reino de Deus.

Como lhe surgiu a ideia de abraçar essa causa? Por um lado, sou empreendedor. Por outro, me envolvo em ações comunitárias junto à Igreja de Jesus Cristo dos Últimos Dias - que tem ações em várias partes do mundo, como Síria, e na Europa acolhendo os que chegam da África. Agora, no Brasil, temos um fluxo de 500 a 600 pessoas entrando por dia. No final do mês, são quase 10 mil pessoas.

De que forma tem ajudado? Comecei a trabalhar com isso há três semanas, me reunindo com a prefeita Surita, em Boa Vista. Para mim ficou claro que há um gargalo em Roraima. As pessoas chegam com a roupa do corpo e uma mochila nas costas. Sem alimento, nem roupa, nem moradia, nem saúde, nem escola. E o que a nossa Igreja se propõe a fazer? Está ajudando 100 famílias de venezuelanos em SP, Minas, Paraná, Rio Grande do Sul. No total, cerca de 500 pessoas serão acolhidas.

Você não está sozinho nessa empreitada, não? Quando levei o assunto para a Casa Civil, para o Exército e para a ONU, acabei sendo convidado a liderar a frente de empresários dispostos a colaborar nessa missão humanitária. Aceitei para estimular outros empresários a aderir - e fiquei surpreso com a reação positiva. Por exemplo, o David Neeleman, fundador e presidente da Azul, se dispôs a transportar uma família por dia gratuitamente. A Gol vai fazer o mesmo. E tenho falado com outros líderes, como o pastor Michael Aboud, de Santa Catarina. Ele tem uma comunidade religiosa e vai receber 500 venezuelanos em Camboriú.

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O que a igreja faz além de dar um lugar para ficar? A igreja valoriza muito a união familiar. Identifica grupos familiares, principalmente com crianças pequenas, localiza famílias que se disponham a oferecer moradia, alimentação, roupa, qualificação profissional e, mais importante, mercado de trabalho. Mas eu já percebi que o que a igreja está fazendo é uma gota no oceano. Há hoje em Boa Vista cerca de 30 mil venezuelanos. São 10 abrigos, cada um com 5 mil refugiados. É um campo de refugiados mesmo. Uma barraca, uma marmita por pessoa, entende?

Há outros setores seguindo esse exemplo? Existem mais de 10 ONGs, mas o que ocorre com as ONGs? Eu admiro o que fazem, parabenizo. Algumas cuidam só de criancinhas, outras da saúde da mulher ou dos idosos, mas nenhuma tem o foco na interiorização. A minha visão, como empreendedor, é que a solução não reside em Roraima. Ela está em compartilhar o desafio com todos os Estados do Brasil.

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