Em vídeo divulgado na noite desta terça na internet, Roberto Carlos, Erasmo Carlos e Gilberto Gil, artistas do grupo Procure Saber, reforçaram a crença no "direito à privacidade e à intimidade", mas disseram que nunca quiseram exercer "qualquer censura" contra biógrafos. "Queremos, sim, garantias contra ataques, excessos, mentiras, aproveitadores", disse Gil.
O vídeo assinala um abrandamento na opinião do grupo que, liderado por Paula Lavigne e integrado ainda por artistas como Caetano Veloso e Chico Buarque, provocou polêmica ao se opor ao projeto de lei, atualmente no Congresso, que derruba a necessidade de autorização prévia para a publicação de biografias. No domingo, em entrevista ao Fantástico, Roberto Carlos já havia se colocado a favor da lei, mas com "ajustes", mas sem especificar quais seriam eles.
O vídeo divulgado ontem também não é claro no que diz respeito a como seria possível fazer conviver o direito à privacidade com o direito à livre expressão. "Não é uma decisão fácil, mas ela passa por um juízo íntimo e julgamos ter o direito de saber o que de privado, de particular, existe em cada um de nós", disse Roberto Carlos, secundado por Erasmo: "Esse ponto não podemos delegar a ninguém além de nós".
Ao mesmo tempo, porém, Erasmo se colocou de forma clara contra a censura prévia. "Se nos sentirmos ultrajados, temos o dever de buscar nossos direitos, sem censura prévia, sem a necessidade de que se autorize por escrito quem quer falar de quem quer que seja."
Roberto Carlos disse confiar "que o sistema judicial há de encontrar uma maneira de conciliar o direito constitucional à privacidade com o direito também fundamental de informação". Uma das hipóteses correntes no Congresso é que a Lei das Biografias pode ser aprovada juntamente a um "rito sumário" que permitiria que trechos julgados ofensivos fossem suprimidos em novas edições das obras.
Gilberto Gil também negou que o Procure Saber defenda a proibição de livros. Para ele, "o exercício do direito à intimidade não significa exercer censura". "Ao contrário, é um fortalecimento do direito coletivo. Só existiremos enquanto sociedade se existirmos enquanto pessoas. Quando nos sentimos invadidos, julgamos que temos o direito de nos preservar e de certa forma preservar a todos que de alguma maneira não tem, como nós, o acesso à mídia, ao judiciário."
Gil também falou da natureza do trabalho do artista, "que passa a vida a tentar interpretar o sentimentos das pessoas"; foi seguido, no tema, por Roberto Carlos, que aproveitou para mandar recado aos biógrafos. "Passamos a vida a falar de amor e do amor, e nem por isso nos tornamos experts no assunto."