Há seis anos, quando estava na Alemanha, o artista plástico Salmo Dansa mergulhou profundamente nos contos do clássico escritor dinamarquês Hans Christian Andersen. Na época, chamou sua atenção o mundo em miniatura retratado em várias histórias. "Andersen criou uma atmosfera especial para a criança, que vive esse mundo dos pequenos objetos de forma intensa. Ela própria é uma miniatura", conta Dansa, que já ilustrou mais de 80 livros para crianças e jovens. "Na tradução dos contos para o português, o conceito de miniatura fica ainda mais evidente do que nos textos em alemão ou inglês", ressalta.
Dansa selecionou, então, contos que têm em comum personagens pequeninos e passou a ilustrá-los utilizando materiais também pequenos, de uso comum, associados às histórias. O primeiro deles foi o Patinho Feio. "Estava em Munique e encontrei um ninho de cisne à beira de um lago, com ovos e plumas. Decidi ilustrar o conto com esses materiais", diz o artista plástico.
Para A Pequena Sereia, Dansa usou rótulos de lata de sardinha e pedaços de CD. Em Soldadinho de Chumbo, criou baixos-relevos em terracota e, depois, em uma fundição, as transformou em peças de chumbo, que foram pintadas com tinta para metal. A Pequena Vendedora de Fósforos foi ilustrada com caixinhas de fósforo e palitos e Os Sapatinhos Vermelhos, com solas, pedaços de couro e tinta própria. Em O Rouxinol, utilizou fitas cassetes antigas e em Polegarzinha, pétalas desidratadas e asas de borboletas.
Com o material em mãos, Dansa procurou a escritora e professora Katia Canton, especialista em contos de fadas, para adaptar os contos. "Sou muito fã do trabalho dela, não tinha melhor pessoa para reescrevê-los", comemora. Katia, por sua vez, conta que se sentiu honrada com a escolha. "O que o Salmo fez foi fruto de uma paixão e de uma dedicação pouco vistos. Ele já havia dado o tom de um pequeno tesouro e coube a mim acompanhá-lo", afirma. Juntos, os dois fizeram Minimaginário de Andersen, lançado recentemente pela editora Companhia das Letrinhas.
Para Katia, as histórias de Andersen continuam vivas porque são repletas de afeto. "São carinhosas e parecem sussurradas em nossos ouvidos. Ele tinha um jeito todo especial de contar: usava frequentemente seus 'inhos', miniaturizando os personagens e suas ações, e descrevia cenas com um detalhamento de quem está vendo tudo de perto. É por isso que optamos pelo conceito de minimaginário. Não é só o formato do livro que é pequeno; Andersen nos leva para o maravilhamento com universos minúsculos. E, ao mesmo tempo, tão universais."
O projeto gráfico do livro - pequeno, de capa dura, com um soldadinho de chumbo no centro - é tão incrível quanto os contos e as ilustrações. Para ler, reler e guardar.
ServiçoMinimaginário de Andersen Textos adapatados por Katia Canton Ilusrações: Salmo Dansa Editora: Companhia das Letrinhas Preço: R$ 43
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