Clarice Cardoso
Um anúncio feito pela Academia de TV, que promove o Emmy, já denuncia o que os fãs de série perceberam há meses: as minisséries são o que há de melhor na produção atual.
A safra recente está mostrando qualidade tão surpreendente que este ano o Emmy volta a dividir a categoria de minisséries e de filmes para a TV em dois prêmios diferentes, algo mais do que justo. Se isso já tivesse ocorrido na última edição, a série Top of the Lake, por exemplo, não teria concorrido com o filme Minha Vida com Liberace. Ambos são ótimos, mas são produtos e propostas diferentes, quase incomparáveis. Até porque o segundo, que saiu vencedor, tem Michael Douglas e Matt Damon em grandes papéis. Concorrência desleal.
O comunicado oficial diz que o notável crescimento nos últimos três anos convenceu a Academia a dividir novamente os competidores em duas listas de finalistas para tornar a premiação mais justa.
A justiça foi feita no caso de Top of the Lake com o Globo de Ouro de melhor minissérie. Merecidíssimo. A série é protagonizada por Elisabeth Moss (que conhecemos como a Peggy de Mad Men) e tem um clima de suspense e tensão que ficaria cansativo ou morreria se tivesse mais que sete episódios. Termina no momento ideal para o espectador estar envolvido o suficiente e, ainda assim, sair da sala satisfeito.
Outra que vale citar é Sherlock, a melhor adaptação atual dos livros de Sir Arthur Conan Doyle. Os britânicos conseguiram trazer o detetive para o século 21 fazendo justiça com a literatura policial, adaptando seus traços mais marcantes para mostrar como eles se mostrariam nos dias de hoje. Adesivos de nicotina, redes sociais, Google... Está tudo lá, em três episódios, que dão conta de tramas intrincadas e densas e praticamente não se arrastam.
Mesmo séries que já terminaram querem entrar na onda das minisséries. Uma nova versão mais curta de 24 Horas está sendo filmada para estrear em maio, e o que se disse a esse respeito até agora leva a crer que Jack Bauer não deve reaparecer muito diferente de como o conhecemos. Outra que vai voltar mais curta é Heroes, e não sei dizer de onde tiraram essa ideia. De qualquer forma, é traço forte de uma tendência que se desenha.
A Globosat também investe no formato, e trará em março, em seus serviços on demand, as minisséries Archangel, Casanova, Frankenstein e Seven Deadly Sins.
Tendo visto boa parte dessa produção, digo que a minissérie do momento é True Detective, que está no ar na HBO. Não daria para escalar um ator do porte de Matthew McConaughey para uma produção longa, então, um projeto menor, com oito episódios, é o ideal. Ou seja: podemos ter num futuro próximo grandes nomes do cinema fazendo papéis nesse tipo de produção. Vale lembrar que Matthew está em dois filmes que concorrem ao Oscar 2014, O Lobo de Wall Street e Clube de Compras Dallas, pelo qual é favorito ao prêmio de melhor ator.
Muito disso pode ter a ver com o modo como as pessoas estão preferindo ver TV hoje em dia: deixando acumular os episódios e vendo tudo de uma vez. O binge-watching de que falei no outro dia, neste post, pode estar afetando até o formato das produções futuras. Os praticantes dessas maratonas televisivas (que têm vindo se confessar para mim o tempo todo desde que falei a respeito) sabem que é muito mais atraente assistir a seis ou sete episódios de uma vez do que ver uma lista de espera com dezenas de vídeos enfileirados.
Tudo isso somado pode, em tese, fazer as minisséries aparecerem com mais força no radar dos produtores. Se continuar como está sendo até agora, bom para nós.
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Um não tão breve PS sobre True Detective: escrevi para o Caderno 2 um texto sobre dois grandes nomes indicados ao Oscar que podem ser vistos na televisão e que será publicado na edição impressa no sábado -- você pode ler aqui. Um deles é Mads Mikkelsen, vencedor da Palma de Ouro em Cannes e responsável por uma quase reinvenção do canibal Hannibal na série homônima,cuja segunda temporada estreia no próximo dia 10 no AXN.
Mas o grande nome do Oscar e da TV hoje é, claro, Matthew McConaughey que, segundo meu colega de baia, o crítico de cinema do Estado Luiz Carlos Merten, é um dos melhores atores em atividade hoje. Eu pedi e ele topou: fez um breve comentário sobre os dois atores neste outro texto.
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