"A Conspiração ama e é devota de Gilberto Gil", diz o texto da contracapa da caixa de DVDs. Nem precisava dizer. É nítida a dedicação dos cineastas Andrucha Waddington e Lula Buarque de Hollanda, sócios da produtora, sobre a arte e a pessoa de Gil. Mais do que admiração, ressalta a capacidade de entendimento de sua obra e do ambiente elementar que a envolve, em retratos fiéis e tocantes, que ganham vulto nesse conjunto de filmes, para melhor se compreender o significado dessa obra. "Aquilo tudo passa dentro da minha totalidade e a minha totalidade também passa por dentro daquilo tudo. Acho até que ultrapassa a dimensão individual", diz Gil. "E é nesse sentido importante a caixa mostrar o conjunto todo, porque comenta um pouco e bastante sobre o Brasil, sobre a Bahia, sobre esse caráter importante fundador da coisa baiana, da coisa nordestina, da importância que a festa barroca tem na civilização brasileira, com o São João e o carnaval, que se esparrama entre Bahia e Pernambuco. Ali tem Nabuco, tem Gilberto Freire, Jorge Amado, tem a formação brasileira." Gil voltou a Ituaçu depois de mais de 40 anos para as filmagens de Tempo Rei (1996), que sai em DVD pela primeira vez. Num encontro antológico com Jorge Amado, o escritor baiano ressalta a riqueza da criação musical baiana, dizendo que, embora se sinta a influência do índio, do negro e da herança europeia branca, "nosso umbigo é a África": "Devemos ser mais orgulhosos dos barcos de escravos do que das caravelas". Em Kaya N"gan Daya ele homenageou Bob Marley e reavivou clássicos do próprio repertório ao violão, acompanhado apenas do filho Bem Gil em Bandadois. Viajou pelas festas juninas do Nordeste durante a turnê de Viva São João!, cantando o repertório da trilha do filme Eu Tu Eles, que remete a Luiz Gonzaga. Invertendo a situação de 13 de Dezembro, choro instrumental de Gonzagão em que ele colocou letra, Gil pretende musicar versos de Zé Dantas, parceiro do Mestre Lua em clássicos como Xote das Meninas. "Tenho interesse também em musicar poemas de João Cabral de Mello Neto. No caso de Zé Dantas, tenho uma paixão pela leveza, pelo frescor, pela facilidade com que ele captura o espírito jocoso, a coisa pitoresca do modo nordestino. Era um cronista extraordinário."Em junho vai circular de novo pelo São João nordestino com Fé na Festa, seu celebrado trabalho mais recente, que traz uma poética parceria inédita com Dominguinhos, Um Riacho, Um Caminho. Depois disso, leva para o verão europeu o mesmo bom show. "Quero ver se crio pelo menos duas novas canções, quero manter um pouco esse título em vigência, porque acho muito forte, significativo: fé na festa e festa na fé, o sagrado e o profano propiciando esse momento de folguedos populares. É também para não deixar que isso se dissolva nessa velocidade, nessa vertigem da reposição industrial, de fazer tudo de uma vez e partir logo para outra coisa. Não, quero ficar fiel um pouco. Tomei consciência disso quando fiz esse show agora, aqui na Concha Acústica, em Salvador, fora da estação, com a cidade já voltada para o carnaval. O público foi uma maravilha, percebeu a insistência no lado devocional que tem esse trabalho."OS DVDsTempo Rei (1996)No filme comemorativo dos 30 anos de carreira, Gil volta à cidade natal, Ituaçu (BA).Pierre Verger: Mensageiro Entre Dois Mundos (1999)Belo retrato do fotógrafo e etnólogo francês radicado na Bahia.Eu Tu Eles (2000)Ficção estrelada por Regina Casé, com trilha sonora de GilFilhos de Gandhy (2000)Documentário sobre o bloco afro no carnaval de Salvador.Viva São João! (2001)Registro da turnê de Gil pelas festas juninas do Nordeste.Kaya N"gan Daya (2002)Show e documentário sobre o tributo ao reggae de Bob Marley.Bandadois (2009)Registro do show em que Gil divide o palco com o filho Bem.