Por paradoxal que pareça, foi um terremoto que mudou a arquitetura japonesa em 1995. Taro Igarashi, professor da Universidade de Tohoku, diz que a febre por formas radicais e o ornamentalismo pós-moderno caíram literalmente por terra com o grande terremoto de Hanshin-Awaki, perto de Kobe, tragédia em que morreram mais de 6 mil pessoas. O sismo e a bolha econômica também mataram o pós-modernismo e o desconstrutivismo japonês, observa Igarashi no catálogo da exposição Parallel Nippon - Arquitetura Contemporânea Japonesa (1996-2006), aberta ao público a partir de hoje, no Instituto Tomie Ohtake. São 124 obras entre fotografias, maquetes e origamis arquitetônicos nessa mostra montada no Japão e que já passou por diversos países e várias cidades brasileiras.Organizada pela Fundação Japão e Instituto Tomie Ohtake com a cooperação do Instituto de Arquitetura do Japão e o Consulado do Japão em São Paulo, a exposição reúne os principais nomes da arquitetura nipônica, de Tadao Ando a Tomoyuki Utsumi, passando pela dupla que ganhou este ano o prêmio Pritzker, Kazuyo Sejima e Rye Nishizawa, do escritório Sanaa, reconhecidos como os grandes nomes japoneses ligados à construção de museus internacionais - eles são os autores do New Museum de Nova York, do anexo do Ivam em Valência e do Pavilhão de Vidro do Museu de Toledo, além de assinarem juntos o Museu de Arte Contemporânea do Século 21 de Kanazawa, no Japão.Nishizawa, em entrevista ao Estado, diz, modestamente, que não sabe "se os japoneses são mais sensíveis à arte contemporânea que os europeus e os americanos" para serem tão disputados pelos museus, mas admite que a bolha econômica - que coincidiu com o período pós-moderno - e a desaceleração econômica ajudaram o Japão a ver de maneira mais clara e dispensar os penduricalhos arquitetônicos. Em outras palavras, Nishizawa admite que a retomada do ideal modernista da limpeza formal e da simplicidade fez bem para a arquitetura japonesa, especialmente nesta época marcada pela expansão das cidades, das quais Tóquio é o exemplo extremo. Contraponto. Até na metrópole japonesa, segundo o professor de arquitetura japonês Riichi Miyake, as coisas estão mudando. O contraponto das ruas comerciais dos centros urbanos, dominadas pelas lojas de grife com arquitetura monumental, é o conjunto de ruelas de bairros deteriorados que começam a ser remodeladas, preservando antigas paisagens.A população urbana do Japão representa mais de 70% do total e o modelo expansionista aos poucos vai sendo trocado por uma política de preservação e regeneração urbana das metrópoles, o que faz da exposição passagem obrigatória para os administradores de São Paulo - até mesmo pelo prazer estético de ver belos projetos como a galeria de Tesouros do Templo Horyuji, do Museu Nacional de Tóquio (de Tanighuchi) ou a Maison Hermès lá construída pela Takenaka Corporation há nove anos.Sendo dividida em quatro ciclos - cidade, vida, cultura e moradia -, a mostra traz alguns dos melhores exemplos em cada um deles. No primeiro, além do prédio da Maison Hermès, destacam-se projetos de grandes dimensões como o Museu de Tiajin, na China, construído há seis anos numa associação dos escritórios Kawaguchi e Shin Takamatsu - a China, aliás, virou o paraíso dos arquitetos japoneses, exportados por limitações territoriais.Entre os projetos de maior impacto nos outros ciclos - respectivamente, vida, cultura e moradia - destacam-se o Colégio de Ciências e Artes Liberais de Doha, no Golfo Pérsico ( de Kazuhiro Kojima e Kazuko Akamatus), o Museu de Arte Moderna de Fort Worth nos EUA (Tadao Ando) e a casa do arquiteto e Akira Watanabe em Meguro, Tóquio, construída há dez anos.PARALLEL NIPPON - ARQUITETURA CONTEMPORÂNEA JAPONESA 1996-2006Instituto Tomie Ohtake. Av. Faria Lima 201, telefone 2245-1900.11 h/ 20 h (fecha 2ª). Grátis. Até 30/1.