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Opinião | Barulho virtual

A polêmica em torno das audições para reavaliação dos músicos da Orquestra Sinfônica Brasileira chegou à internet, onde um verdadeiro campo de batalhas se instituiu. Músicos e até maestros como John Neschling, ex-diretor da Osesp, e Alex Klein, ex-diretor do Teatro Municipal de São Paulo, têm trocado acusações. E desde o fim de semana, o crítico inglês Norman Lebrecht, autor de livros de referência como Quem Matou a Música Clássica e O Mito do Maestro, tem repercutido em seu blog a história, chamando atenção para o fato de que pela primeira vez mídias sociais como o Facebook se tornaram veículo para discussão de temas relacionados à vida de uma orquestra, movimentando músicos de todo o mundo.

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Foto do author João Luiz Sampaio
Atualização:

A questão veio a público em fevereiro, quando os músicos da OSB, dirigida pelo maestro Roberto Minczuk, votaram em assembleia pela não participação nas provas de avaliação marcadas pela orquestra para depois do carnaval. A Fundação OSB e o maestro Minczuk ressaltam que as provas são apenas um de vários critérios a serem utilizados na reavaliação do grupo, tendo em vista a melhoria artística da orquestra - e que foram marcadas de acordo com a lei. Os músicos, no entanto, questionam a metodologia da prova e garantem que seu objetivo é político, uma maneira de tirar da orquestra profissionais que se opõem ao trabalho do maestro. Após a assembleia, a Fundação OSB propôs um plano de demissão voluntária para músicos. Por sua vez, os artistas dizem temer uma demissão em massa.

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Desde o fim da semana passada, músicos têm escurecido em protesto suas fotos no Facebook, arregimentando artistas também de fora, como James Wilt, trompetista da Filarmônica de Los Angeles; Rob Weir, fagotista da Sinfônica de São Francisco; a trompetista inglesa Allison Balsom, que já se apresentou como solista ao lado da orquestra e de Minczuk; e o maestro português Osvaldo Ferreira. A violinista Isabelle Faust, que seria uma das artistas contratadas como consultora das audições, em carta ao blog de Norman Lebrecht, o Slipped Disc, disse que foi convidada a se apresentar com a OSB em maio. "Meu único propósito é tocar violino, não fui chamada para nenhum tipo de consultoria relativa a audições."

Para Lebrecht, as questões internas da OSB dizem respeito apenas à orquestra e a seus músicos; o que lhe parece interessante, no entanto, é o advento das mídias sociais como instrumento de divulgação no setor. "O fato de que músicos estão usando mídias sociais como meio de protesto garante atenção maior à questão e garante que a direção da orquestra não poderá simplesmente passar por cima das reivindicações dos artistas. Podemos estar diante de uma nova fase na história de negociações musicais", escreveu Lebrecht. Seu blog, desde o fim de semana, tem resumido a história e reproduzido depoimentos de diversos artistas. Ontem pela manhã, uma carta anônima defendia a fundação e a OSB. Seu autor diz preferir não se identificar: "O Rio é uma cidade perigosa e eu não quero morrer". A carta defende a avaliação, afirmando que os "músicos que reclamam são aqueles que têm medo de perder seus empregos". "Este não é um emprego vitalício, você precisa provar que o merece, como em qualquer outra função."

No Brasil, a questão acabou por explicitar outras discussões. O professor de oboé Luis Carlos Justi, por exemplo, externou, no Facebook, sua preocupação com a Sinfônica Brasileira Jovem. "Temos a nova notícia de que ela vai substituir a OSB em todo o primeiro semestre do ano sob a alegação de que eles terão solistas e regentes renomados. Como ficam os alunos que ainda estão em período de estudos e agora se veem constrangidos a assumir um papel profissional prematuro com uma remuneração de bolsa de estudos? Quanto tempo eles terão para o estudo de seus instrumentos, e da música de um modo geral, quando assumirem a obrigação de concertos? E como fica o aspecto simplesmente trabalhista dessa relação? Que espécie de ética a direção da OSB está ensinando a esses jovens?", escreveu ele.

Batutas. A polêmica também explicitou diferenças entre maestros. Em uma carta aberta publicada em sua página do Facebook, o maestro Alex Klein, que teve passagem relâmpago pela direção do Teatro Municipal de São Paulo no fim do ano passado, pede ao maestro Minczuk que repense a estratégia de avaliação da OSB, "metodologia usada antes na Osesp (Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo), deixando cicatrizes no mercado musical que até hoje afetam músicos brasileiros". Tentando defender os músicos, assim como a necessidade de reavaliação, Klein diz ainda que "os dias do Poderoso Chefão em fábricas e indústrias acabou". "Hoje, empresas modernas valorizam o feedback dos funcionários, com chefes e empregados em constante comunicação." "Não podemos ceder a valores autocráticos porque eles nos parecem convenientes."

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A OSB não respondeu a Klein, mas o maestro John Neschling, responsável pela reformulação da Osesp, não se conteve. Em seu blog, o Semibreves, que desde o início da polêmica tem divulgado a posição dos músicos da OSB, ele criticou a deselegância de Klein contra ele e Minczuk em sua carta e questionou a comparação das audições de agora com as realizadas por ele na Osesp, no fim dos anos 90. Lembrando ainda que Klein viveu boa parte das últimas décadas fora do Brasil, como oboísta da Sinfônica de Chicago, Neschling diz que "é curioso que ele queira agora ser o paladino da classe musical, espinafrando colegas, pretendendo dar aulas a Roberto Minczuk e, pretensiosamente, ditando regras que ele nunca conseguiu pôr em prática". "Seu primeiro conflito no único cargo importante que tentou ocupar como diretor de um grande teatro resultou na sua demissão depois de três meses no posto. (...) Como disse Sêneca, nossa vida é curta e nossa arte é longa. A essa altura, Alex deveria, no mínimo, ter uma biografia como a do maestro Minczuk ou a minha para escrever cartas pretensiosas como a que escreveu."

Em tempo: na tarde de ontem, depois do fechamento da matéria, o crítico Norman Lebrecht publicou em seu blog uma carta do maestro Roberto Minczuk sobre a questão das audições. Em seguida, o presidente da Comissão de Músicos, Luzer Machtyngier, rebate seus argumentos.

Opinião por João Luiz Sampaio

É editor do Estadão, crítico musical e autor de 'Ópera à Brasileira', 'Antônio Meneses: Arquitetura da Emoção' e 'Guiomar Novas do Brasil', entre outros livros

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