"Tristão e Isolda" completa 150 anos em 2009. Seu fascínio está na mistura de idéias filosóficas e musicais, como se filosofia e arte fossem um só corpo. Narra a história de amor impossível de Tristão e Isolda; ele mata o noivo dela e a leva para casar com seu rei, Marke. Ela, por sua vez, tenta matá-lo - e a si própria - com uma poção da morte que, porém, foi substituída por sua dama de companhia pela poção do amor. Um amor impossível, contra as convenções da época e das relações pessoais de ambos. Na adolescência, lembro de ficar fascinado com a idéia do amor impossível, desse amor que é tão grande que sua realização seria na verdade a traição de sua natureza. É, o romantismo faz cada estrago na nossa cabecinha, mas, enfim... Anos depois, a ópera segue uma das minhas taras. Eu gosto de vê-la como uma janela aberta para a riqueza da alma humana. O dueto de amor do segundo ato é impressionante. Nada acontece, a ópera em si quase não tem ação, que ocorre toda antes que a cortina suba. Na ópera, o que vemos no palco é a mente humana, os conflitos internos, os sentimentos de cada personagem, gritos, suspiros, desejo, excitação, que se transformam em sons de êxtase, em certos momentos praticamente indistintos. Ou seja, o cenário de "Tristão e Isolda" é a paisagem das contradições humanas.E o mais interessante é que, para criar a música para a ópera, para a alma humana, Wagner acabou por criar melodia sem fim. Ele a chamou de melodia infinita. Basicamente, em cada acorde da música, Wagner cria duas dissonâncias, só que resolve apenas uma delas, deixando que a outra ecoe enquanto novo acorde se forma - no final das contas, a música, de uma beleza incrível, é, digamos, uma mistura de certezas e dissonâncias. Para cada certeza, há uma dúvida que persiste em segundo plano, recheando e completando a certeza. A melodia infinita é o homem?
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