Coleção de Livros: Clóvis de Barros Filho indica dez obras para amantes de filosofia; veja lista

Filósofo recebeu ‘Estadão’ para um tour pela biblioteca de seu escritório e fez indicações literárias que vão de Aristóteles a Dostoievski; assista ao vídeo e confira os títulos

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Foto do author João Abel
Atualização:

“Eu praticamente só compro e leio livros de filosofia”, afirma Clóvis de Barros Filho ao explicar a composição de sua biblioteca, vasculhada pelo Estadão em mais um episódio da série Coleção de Livros. O autor justifica a prioridade por conta de seu trabalho, que, segundo ele, é “traduzir e aproximar a filosofia do público leigo”.

Ao longo do tour por suas estantes, o professor indicou algumas obras importantes em sua formação e que considera de relevante leitura para quem gosta de temas filosóficos.

Eis a lista - com os comentários de Barros Filho:

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‘Da horda ao Estado: psicanálise do vínculo social’, de Eugène Enriquez

“Eu tenho um carinho especial pelo Enriquez. Este é um livro muito, muito, muito bonito. Ele mostra da hipotética situação de estado de natureza, aquela o [Thomas] Hobbes chamaria de ‘guerra de todos contra todos’, uma zona completa, até o Estado moderno. Como é que as coisas evoluíram. Mas sob uma angulação que não é só histórica ou política, mas é psicanalítica. Sob a luz de Freud, por exemplo. Um belíssimo trabalho.”

‘Metafísica de Aristóteles’, de Giovanni Reale

“Dos três pais fundadores do pensamento ocidental, Sócrates, Platão e Aristóteles, eu sempre me deixei fisgar mais por Aristóteles. Sempre achei Ética a Nicômaco a obra da antiguidade mais fascinante. E alguns comentadores de Aristóteles também me fascinam. O Giovanni Reale tem este tratado de comentários sobre a metafísica que é primoroso."

Ensaio sobre metafísica na obra de Aristóteles foi escrito pelo italiano Giovanni Reale Foto: Edições Loyola/Divulgação

‘A Prudência em Aristóteles’, de Pierre Aubenque

“Este é outro comentador que gosto muito. Aubenque, que é francês, escreveu A Prudência. O conceito de ‘phronesis’ (prudência) é um dos mais relevantes e, ao mesmo tempo, ricos da obra de Aristóteles. Uma leitura maravilhosa."

‘O normal e o patológico’, de Georges Canguilhem

“Esta obra é sensacional. Sempre me fascinou. Canguilhem escreveu aqui um dos textos mais clássicos do pensamento do século 20. Ele põe o dedo numa questão cada vez mais central na nossa vida, que é a multiplicação das patologias, das doenças, das nomenclaturas. Parece haver um avanço do patológico sobre a normalidade. É uma obra de investigação filosófica poderosíssima.”

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‘Crime e Castigo’, de Fiodor Dostoievski

“O professor [Luiz Felipe] Pondé tem muito mais propriedade para falar dos russos que eu. Mas existe um exemplar de Dostoievski aí ‘perdido’ no meio dos pensadores por conta da relação íntima entre a sua obra e algumas filosofias do século 19. O mundo da vontade e da representação, de [Arthur] Schopenhauer, por exemplo, tem muito a ver com o subterrâneo do Dostoievski. A leitura de Crime e Castigo foi uma grata surpresa para mim.”

‘O Primo Basílio’, de Eça de Queiroz

“É engraçado, porque tenho uma grande queda pelos autores que eu aprendi na escola, mais do que pelos contemporâneos. Eça de Queiroz é meu favorito. Devo ter lido O Primo Basílio umas tantas vezes. Muito embora eu repita que sou um completo ignorante em literatura. O que me interessa nas histórias ficcionais é encontrar de modo diferente as ideias que circulam num campo que me é mais familiar."

‘Nietzsche e a grande política da linguagem’, de Viviane Mosé

“Uma grande colega e amiga, a Viviane Mosé, escreveu esta obra. É um belíssimo trabalho que eu uso frequentemente nas minhas aulas, nas minhas intervenções. Viviane que muita gente conheceu no Fantástico, falando sobre filosofia, e que brilha pelo país afora com sua inteligência.”

Viviane Mosé, filósofa capixaba, escreveu 'Nietzsche e a grande política da linguagem' Foto: Vozes Nobilis/Divulgação

‘O iluminismo visionário’, de Olgária Matos

“Na FFLCH-USP [Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo], eu tive aula com o professora Olgária Matos. E ela fez aqui um trabalho primoroso. O termo ‘iluminismo’ nos acompanha desde o ensino fundamental e é aquele tipo de noção que entra para o nosso repertório, mas que às vezes nunca merecem a atenção devida. Como ‘Renascimento’ e ‘Idade Média’ também, por exemplo."

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‘Bergson: intuição e discurso filosófico’, de Franklin Leopoldo e Silva

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“Eu também tive aula na FFLCH com o professor Franklin Leopoldo e Silva. Uma das maiores culturas filosóficas da USP de todos os tempos. Foi ele quem trouxe o Sartre para o Brasil. E um dos seus principais trabalhos é sobre o conceito de intuição de [Henri] Bergson. É um trabalho lapidar. Talvez não seja propriamente um livro introdutório, mas para quem quer ter uma noção do que é intuição e está disposto a encarar uma literatura filosófica consistente, o Franklin é um ótimo caminho.”

‘Projeto de vida’, de Clóvis de Barros Filho

“Para finalizar, este livro organizado pela Citadel reúne algumas aulas minhas. É bem fácil de ler. Resolvi publicá-lo depois que o Ministério da Educação dispôs um novo tema para o Ensino Médio, que é o projeto de vida. Toda a minha preocupação foi evitar que a autoajuda, digamos assim, mais pobre entrasse pela janela no mundo escolar.

É importante que a escola seja um espaço que permita ao aluno refletir sobre si mesmo e ganhar condições de autonomia para empreender a própria vida, e não passivamente esperar soluções prontas e pasteurizadas a respeito de como se deve viver para ser bem-sucedido.”

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