Antes miragem para boa parte da população, o home office se tornou realidade para 8,2 milhões de brasileiros na pandemia. E, na emergência, cada um se adaptou como pôde. Misturar casa e trabalho teve efeitos pesados para várias mulheres. Principalmente mães. Jornada estendida, necessidade de conciliar várias atividades, sobrecarga mental.

Mas teve também um outro lado. De repente, para muitas, passou a ser possível almoçar com as crianças, buscá-las na escola, vê-las brincar. Ou, resumindo, desempenhar outros papéis da maternidade que na vida pré-pandemia acabavam relegados a terceiros.
Foi cansativo? Claro! E muitas se queixam de aumento de trabalho. Mas poder falar com o filho no meio do dia sem ser por telefone também passou a ser visto como benefício.
O caso é que agora, para um enorme contingente de mães, já foi ou será preciso retomar total ou parcialmente a antiga rotina. E muitas estão confusas, com sentimento de perda.
Além das questões psicológicas, há problemas práticos. Na pandemia, muitas pessoas perderam gente querida que as ajudava. Outras perderam renda. Outras se separaram e estão sozinhas com os filhos. E agora? Quem vai ficar com as crianças? Onde arrumar dinheiro para a babá?
Persiste ainda o fantasma da covid. Menores de 12 anos ainda não foram vacinados. Como então deixá-los fora do ambiente controlado que só as mães conseguem criar?
Fora do Brasil, já há até uma sigla para designar o medo da volta ao escritório: Forto, de Fear Of Returning to The Office. E pesquisas mostram muitos profissionais dispostos a trocar de emprego para não ter de voltar ao esquema cinco dias por semana no escritório. Por outro lado, várias mulheres defendem a opção híbrida, porque acham importante ver o mundo fora de casa.
O que as empresas podem fazer diante de tanta ansiedade? A primeira resposta, segundo especialistas, é ouvir as mães. Seja por pesquisas anônimas ou de maneira pessoal. E oferecer propostas concretas aos pontos levantados. Não há uma única receita, mas se adaptar está em todos os manuais de sobrevivência corporativa. E implica flexibilidade. Após meses de perrengues passados pelas funcionárias, escutá-las pode ser uma estratégia para mantê-las no trabalho. Se produtivas e felizes, melhor. PS: Estreio hoje esta coluna sobre temas femininos em meio a meu trabalho como editora no Estadão, professora na Faap e mãe de um casal de gêmeos. E aí? Quer sugerir algo que impacta sua vida e se repete com parentes, amigas e vizinhas?