Se você foi mãe de gêmeos prematuros como eu - e não tinha uma babá a noite toda -, deve ter tido a experiência de passar meses sem dormir bem. Quando, algum tempo após o nascimento, passam a se acumular as tarefas pessoais e profissionais, a privação de sono pode ganhar contornos ainda mais dramáticos.
No meu caso, o trabalho na Primeira Página do Estadão permitia ficar com as crianças de manhã e no começo da tarde, mas me fazia sempre dormir perto da meia-noite. E o que me salvou durante anos nesse ritmo intenso de trabalho e de noites mal dormidas foi uma coisa que aprendi bem antes da maternidade, no ano em que vivi na Espanha: a sesta, ou, como dizem por lá, siesta.
No fim dos anos 1990 as lojas espanholas inclusive fechavam por duas horas no meio do dia. Anos mais tarde por aqui, usei tanto a sesta diária que tinha até um pequeno manual para as amigas. As regras: deitar num lugar escuro com o alarme do celular programado para despertar em 20 minutos, fechar os olhos, não se mexer, dormir.

Ao acordar, eu parecia outra pessoa, como se tivesse dormido por horas. Sabe aquela história do computador que está meio lento e, quando você reinicia, parece outra máquina? Comigo era assim.
Aposto que muita gente vai dizer que é impossível dormir tão rápido, mas não é. Tudo na vida é questão de treino. Até isso. Com o tempo, o corpo se acostuma de tal maneira que até o alarme no celular vira um acessório.
Mas há um truque: não estender demais o tempo da sesta. O ideal pra mim eram 20, talvez 25, jamais mais do que 30. Nas vezes em que extrapolava esse limite, quase não conseguia levantar e ia para o trabalho me arrastando.
O que a ciência diz sobre o cochilo?
Ao pesquisar sobre assunto, descobri a explicação da ciência para esse hábito que virara estratégia de sobrevivência. Reportagem do New York Times explica que, quando dormimos a noite toda, passamos por vários “ciclos de sono” de cerca de 90 minutos. Cada um composto por quatro estágios.
Os dois primeiros são de sono leve. Neles, músculos relaxam, a temperatura corporal cai, a frequência cardíaca e de respiração diminui. No terceiro estágio, de sono profundo, olhos e músculos relaxam completamente, o corpo repara e constrói ossos, músculos e outros tecidos, os sistemas imunológico e de processamento de memórias são fortalecidos. Já no último estágio ocorre o movimento rápido dos olhos - do inglês, rapid eyes movement, ou REM. É quando se tem mais probabilidade de sonhar e, acreditam os especialistas, armazenar memórias e aprendizado e regular o humor.
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Situados na fase de sono leve, os cochilos rápidos durante o dia podem ser úteis porque aumentam o estado de alerta, dando a impressão de que você acordou renovada.
Um treinamento para enfermeiros com turnos longos de trabalho, publicado no site do US Centers for Disease Control and Prevention (CDC), dos Estados Unidos, cita como outra vantagem dos cochilos o fato de não prejudicarem o sono à noite. Mas a história muda quando o sono se torna mais profundo. “Se você acordar após cerca de 1 hora de sono (quando estiver em sono profundo), seu funcionamento pode se deteriorar consideravelmente devido à ‘inércia do sono’.”
Eis aí o nome para o que te faz sentir que está se arrastando.
Já quando você acorda de um cochilo de 20 minutos (antes de entrar nesse sono mais profundo) ou de uma boa dormida de 90 minutos (previsto para ser o fim de um ciclo de sono), “a tontura causada pela inércia do sono pode ser menor”. Essa é a explicação para se sentir mais ativa.
Mas fica um alerta: se você estiver com muita privação de sono ao encarar um cochilo, seu cérebro pode progredir para o sono profundo mais rapidamente. Como resultado, a inércia do sono pode durar mais, dificultando você acordar e se sentir alerta, mesmo após um curto período de sono. Por isso, se estiver em dúvida entre pôr o alarme para daqui a 20 minutos ou 30, vá na primeira opção. E boa sesta!