RECIFE - Meu post de ontem, sobre o início do Festival do Recife e o longa de Josias Teófilo sobre o filósofo Olavo de Carvalho - O Jardim das Aflições - gerou alguma polêmica no debate sobre o filme. Nada que o diálogo não tenha resolvido. Quero dizer que, a despeito do boicote ao Cine PE, que começou com os realizadores de curtas, a mostra de pequenos filmes está muito interessante. Gostei, particularmente, de Soberanos da Resistência, de Marcus Paiva, na mostra pernambucana, sobre o maracatu como uma cultura hoje de rua, e de Luiza, de Caio Baú, na nacional, que faz o retrato da irmã do diretor, uma garota especial que faz sua descoberta da sexualidade. Gosto muito de Ex-Machina, mas já havia visto e comentado no blog (em outro festival) a animação que Maurício Nunes e Olímpio Costa adaptaram de Murilo Rubião, e quanto ao concorrente gaúcho, Dia dos Namorados, de Roberto Burd, quero dizer, sem bairrismo, que Sandra Dani, numa interpretação antinaturalista brilhante, já é minha candidata a melhor atriz. Confesso que dormi demais - estava precisando, depois das minhas crises de labirintite - e preciso correr para pegar as 'coletivas', que este ano estão substituindo os debates, mas no fundo estão sendo a mesma coisa. Tivemos ontem dois curtas na mostra específica deles, o pernambucano Aqui Jaz, um experimento em Iphone da diretora Brenda Lígia Miguel, e o brasiliense Retratos da Alma, de Leo Bello, com imagens belíssimas mas que confesso que me aborreceu um pouco. Essa história de olhar o mundo, a paisagem e tirar o sapato para sentir a grama e ser uma pessoa melhor não me convence muito, e não que não acredite nisso. Só o fato de ser resistente ao celular já me faz diferente, além das outras diferenças. Tenho sempre disponibilidade para 'olhar - o mundo, o outro - enquanto ao meu redor as pessoas estão sempre midiatizando seu olhar pelas redes sociais. Hoje em dia é raro alguém ficar parado. É automático. As pessoas já sacam seu celular. Vejo o Dib - quando não está no whatsapp, está jogando. E, depois, eu, que sou o voyeur, com meu olhar vagabundo, é que tenho fama de workaholic. Tivemos dois longas - o documentário mineiro Los Leones, de André Lage, sobre um par argentino, muito interessante como experiência de 'ocultamento'. Sou famoso por contar o fim dos filmes - me dizem -, mas isso, para mim, é absolutamente irrelevante. No caso de Los Leones, não gostaria de antecipar as descobertas que o espectador faz quanto a gênero e doença, eventualmente morte. Sem saber nada, ou sabendo o mínimo, como a gente consegue, mesmo assim, se interessar por aquelas pessoas? Eu me interessei. O brasileiro, paulista, Borrasca, veio na sequência. O diretor Francisco Garcia adapta o texto de Mário Bortoloto, com o próprio. Aqui, é quase o oposto - o diálogo está sempre explicitando, contradizendo etc. Achei menos interessante, mas o contraponto entre os dois filmes cria o que não deixa de ser uma tensão.
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