Na história, temas conhecidos dos brasileiros - corrupção, promiscuidade entre fontes e jornalistas em Brasília (mas só lá?), sexo misturado a chantagem. E a suprema dificuldade em manter-se ético quando o ambiente todo é desonesto.
Na apresentação do filme no palco do Palácio dos Festivais, Murilo disse que desejava ser, como Raul Seixas, uma mosca que caiu na sua sopa. Destoar o coro. Ora, o que significa destoar do coro atual? E qual é o uníssono? É o seguinte: a política toda está podre, de alto a baixo, mas a sociedade não. Murilo tenta matizar um pouco as coisas. O publicitário é atraído pelo dinheiro. A jornalista pela fama e pelo poder. Essas atrações fatais os colocam em contato com corruptos. E até que ponto eles próprios não se corrompem?
Numa cena emblemática, um dos personagens, em poder de uma alta soma em propinas, resolve atear fogo ao dinheiro. Seria algo como uma libertação, não tivesse ele se arrependido e resolvido salvar uma parte da grana. Talvez seja um indicativo do que existe por trás disso tudo - corruptos, ma non troppo. Honestos mas não a ponto de rasgar (ou incendiar) dinheiro.
Formalmente, O Fim e os Meios é um filme de relativa complexidade. Trabalha com idas e vindas no tempo, de maneira não-linear. Usa, em muitas cenas, um tipo de fotografia escura, um colorido quase dessaturado, que tende ao preto e branco. Algo falta, como se tivéssemos a sensação de que a radiografia não é completa. Mas as zonas de sombra e os matizes de cinza no comportamento dos envolvidos já são um progresso para um país acostumado a pensar tudo em preto e branco. Tudo como se fosse um Fla-Flu entre bons e maus.
O Fim e os Meios bota um pouco de complexidade no simplismo nacional. Poderia ter ido mais fundo ainda.