O cenário destoa de todos os estereótipos associados aos Estados Unidos. Ao invés da terra das oportunidades, temos como cenário uma das regiões mais miseráveis do país, cuja população é afetada pela disseminação de uma droga fatal, a metanfetamina.
A história é a de uma garota, Ree (Jennifer Lawrence), que precisa desesperadamente encontrar o pai. Não se trata tanto de amor filial. É que Jessup, preso por trabalhar num laboratório da droga, foi libertado sob fiança e sumiu. Ree toma conta da mãe, incapaz, e de dois irmãos menores. A polícia lhe diz que se o pai não for encontrado, a família será despejada, pois a casa foi dada como garantia da fiança. Simples assim.
De modo que a busca de Ree nada terá daquela trajetória simbólica da procura pelo pai como em Paisagem na Neblina, de Theo Angelopoulos, ou Central do Brasil, de Walter Salles. É busca pela sobrevivência mesmo. Pau puro. E Ree mergulhará num pesadelo sem fim nos traços desse pai ausente. Com uma fotografia gélida e interpretação forte de Jennifer, Inverno na Alma traça um retrato implacável de certa ética utilitarista dos Estados Unidos. O ser humano, ali, é mero detalhe.