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Opinião | Mostra de Tiradentes 2025 começa com filme inspirado em Murilo Rubião

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Foto do author Luiz Zanin Oricchio
 

TIRADENTES - O longa de Éder Santos Girassol Vermelho deu a partida à Mostra de Tiradentes, festival dedicado ao cinema independente e que chega agora à 28ª edição. 

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Realizada na cidade histórica mineira, a Mostra de Tiradentes tem como epicentro o Cine Tenda, no qual se realizou a abertura e onde serão exibidos os filmes das principais mostras competitivas - a Aurora e a Olhos Livres. Haverá sessões também para o público no telão montado na praça. 

Há novidades em relação a essas mostras. Tradicionalmente, a Aurora aceitava filmes de realizadores que haviam feito até três longas. Agora, será privativa de cineastas estreantes. A Olhos Livres agora aceita obras assinadas por cineastas, sem qualquer limite de realização. Pode ser a primeira obra; pode ser a centésima. Os candidatos da Olhos Livres terão seus filmes julgados por um júri oficial. Já os concorrentes da Aurora terão seus trabalhos submetidos a um júri de estudantes.

De acordo com um dos curadores, Francis Vogner dos Reis, as mudanças se impunham pois a realidade do próprio cinema mudou muito desde que a Mostra de Tiradentes teve seu foco direcionado para o cinema dito independente. Cinema que floresce, pelo menos em termos de produção, mas continua a enfrentar restrições no âmbito da exibição. No entanto, existe, e resiste. 

O segmento independente enfrenta essas restrições em relação à exibição comercial, mas divide esse problema com boa parte do cinema nacional, que tem sempre dificuldades em chegar às salas do circuito. A não ser para obras que sejam formatadas diretamente para esse circuito - a exemplo das chamadas "Globochanchadas" - ou filmes de exceção, como é o caso notório de Ainda Estou Aqui, de Walter Salles. Turbinado por premiações no exterior e, agora, por indicações ao Oscar, o longa já foi visto por mais de 3,6 milhões de espectadores e os números continuam subindo. 

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"No entanto, não pode ser visto como modelo único para o cinema brasileiro", diz Vogner. De fato, nem toda obra é destinada ao sucesso popular e pode muito bem fazer sua trajetória junto a um público mais reduzido. Como encontrar seu público? É algo que incomoda cineastas de todos os tempos. O curador contou a história de um dos filmes políticos de Jean-Luc Godard, que atraiu 1500 espectadores ao cinema. No entanto, no enterro de um militante político, havia 70 mil pessoas. "Esse era o público possível do meu filme", disse Godard. E por que ele interessou apenas a 1500 espectadores e não aos 70 mil que seriam seu público natural? Mistério. 

Daí a pergunta que orienta as escolhas curatoriais e os debates a serem realizados ao longo dos nove dias de duração da Mostra de Tiradentes: "Que cinema é este?". Sim, um cinema capaz de oferecer de tudo - de um campeão de bilheteria candidato ao Oscar a filmes experimentais feitos com pouquíssimo dinheiro e em geral confinados a uma bolha minúscula de espectadores. Um cinema de comédias em geral bem-sucedidas, embora ignoradas pela crítica. Um cinema capaz de repisar um sucesso popular de qualidade como O Auto da Compadecida 2, que, calculam os especialistas, deverá atingir os 4 milhões de espectadores até o final do mês. Um cinema que sustenta carreiras independentes e centradas no âmbito experimental, como a do veterano Júlio Bressane, que estará em Tiradentes para apresentar seu novo filme, Relâmpagos de Críticas, Murmúrios de Metafísicas, ou do também veterano Guilherme de Almeida Prado, que apresenta seu ousado Odradek, um filme oceânico de quatro horas e meia de duração, inspirado em ninguém menos que Franz Kafka. 

Enfim, ao longo dessa maratona de nove dias, com 140 filmes programados e debates e seminários ocupando as poucas horas livres dos participantes, veremos que tipo de resposta a Mostra de Tiradentes é capaz de oferecer a uma pergunta tão ampla como "Que cinema é este?". Estamos curiosos em saber. 

MOSTRA OLHOS LIVRES (competitiva)

. "A Vida Secreta de meus Três Homens" (PE), de Letícia Simões . "Deuses da Peste" (SP-MG), de Gabriela Luíza e Tiago Mata Machado . "Batguano Returns - Roben na Estrada" (PB), de Tavinho Teixeira e Frederico Benevides . "Prédio Vazio" (ES), de Rodrigo Aragão . "A Primavera" (PE), de Daniel Aragão e Sergio Bivar . "O Mundo dos Mortos" (RJ), de Pedro Tavares . "As Muitas Mortes de Antônio Parreiras" (RJ-CE), de Lucas Parente

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MOSTRA AURORA (competitiva)

. "Cartografia das Ondas" (RJ), de Heloisa Machado . "Margeado" (ES), de Diego Zon . "Um Minuto é uma Eternidade para Quem está Sofrendo" (SE), de Fábio Rogério e Wesley Pereira de Castro . "Nem Deus é tão Justo Quanto seus Jeans" (SP), de Sergio Silva . "Kickflip" (SP), de Lucca Filippin . "Resumo da Ópera" (CE), de Honório Félix e Breno de Lacerda

Opinião por Luiz Zanin Oricchio

É jornalista, psicanalista e crítico de cinema

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