A sessão da noite de ontem foi dedicada à série Women Make Film, de Mark Cousins, no festival de documentários É tudo Verdade online.
Maratona prá valer. São, no total, 840 minutos, ou seja, exatas 14 horas para tentar mostrar o que foi o trabalho feminino na direção de filmes, dos primórdios até hoje.
Ambição não falta a Cousins, de quem já havíamos visto o ótimo A História do Cinema, uma Odisseia, este com nada menos que 15 horas e 15 minutos de duração. Na verdade, é uma belíssima aula de cinema, da qual se pode queixar da profundidade mas jamais da abrangência. Uma das virtudes de Cousins é não se restringir ao mainstream do cinema de arte, incluindo cinematografias mais, digamos, periféricas, como as asiáticas, africanas e sul-americanas.
Em Mulheres Fazem Filmes é a mesma coisa. Com algumas diferenças. As mulheres são minoritárias na direção de filmes (isto está mudando). Além disso, as que conseguiram chegar lá, com as exceções de praxe, são menos conhecidas que seus colegas homens.
Desse modo, lá estão Kathryn Bigelow, primeira mulher a ganhar um Oscar de direção, e algumas divas do cinema de invenção como Agnès Varda e Chantal Akerman. Essas a gente conhece. Mas o que dizer de outras cineastas, do passado e do presente, cujas imagens e nomes vemos e ouvimos pela primeira vez?
Sim, porque esta é a principal virtude dos extensos documentários de Cousins - a importância concedida às imagens. Nenhuma das artistas é apresentada ao público sem que vejamos o que elas foram capazes de colocar sobre uma tela de cinema. E as imagens são fantásticas testemunhas de talentos que muitas vezes ficaram à sombra ou nela foram colocados no correr indiferente da História.
A série toda contém cerca de mil (!) extratos de filmes, abrangendo os cinco continentes, ao longo de 13 décadas de história das imagens em movimento.
São cerca de 40 capítulos, que compreendem as técnicas como os filmes são rodados, montados, sonorizados e também como expressaram sentimentos, o corpo, o sexo, a guerra, a política, etc. Enfim, mescla abordagem estrutural, ou seja, a forma de construção do cinema, aos conteúdos que ele expressa com essa linguagem. Pode haver restrições quanto ao rigor conceitual dessa abordagem mista. Mas ela é amplamente compensada pelo vertiginoso desfile de imagens. Estas despertam nossa consciência para tudo aquilo que perdemos ao ignorar o trabalho dessas mulheres. Só isso já vale muito.
A narração dos comentários tem as vozes de Tilda Swinton, Jane Fonda, Adjoa Andoh, Sharmila Tagore, Kerry Fox, Thandie Newton e Debra Winger.
Acesse neste endereço: https://www.looke.com.br/filmes/women-make-film-1a-temporada
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