A história do garoto Bruno, que vive feliz da vida em sua pequena cidade do interior até receber o diagnóstico de doença degenerativa que o fará perder a visão pouco a pouco, até se tornar cego, poderia dar num filme piegas.
Em Saudade Fez Morada Aqui Dentro, o risco da emoção fácil é evitado. O diretor Haroldo Borges mantém o tom naturalista, quase neutro, ao acompanhar o drama de Bruno (Bruno Jefferson). Tal contenção trabalha a favor do filme - a emoção que se sente é mais intensa e genuína. Menos é mais.
O elenco, composto em quase totalidade por novatos, funciona muito bem nesse sentido. O filme beneficiou-se do trabalho da coach Fátima Toledo, que andou na berlinda durante algum tempo, mas felizmente manteve-se na profissão apesar de julgada e condenada no tribunal de primeira instância da internet. Os efeitos do seu trabalho, quaisquer que sejam seus métodos, se fazem sentir quando envolvem elenco jovem e inexperiente, desde o já longínquo Pixote, de Hector Babenco.
Enfim, Saudades fez morada aqui dentro é um filme de muitas qualidades, que não paga pedágio, senão de maneira lateral, a pautas contemporâneas. Simplesmente contempla um drama humano e a capacidade de recuperação através da amizade, do apoio por parte de pessoas que se interessam de fato pelo outro.
Não oferece consolo fácil. Mas o fato de ser duro, o torna ainda mais emocionante porque trata de emoções verdadeiras e não de sentimentos e pautas de planilha como tem sido uma constante no cinema brasileiro contemporâneo. Tomara encontre seu público porque é uma beleza.
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