Quem assistiu aos jogos da Espanha, não viu nenhuma vez um futebol exuberante. Viu um futebol técnico, de muita posse de bola, um jogo detalhista, caprichado, de bom acabamento, jamais um chutão ou uma bola rifada, como se a equipe de Vicente del Bosque detestasse o desperdício. A bola deve ser trocada de pé em pé, em passes horizontais, até que alguma brecha se apresente. Poucas tentativas em profundidade, poucos dribles - pois essas são jogadas arriscadas, nas quais se pode perder a bola caso não deem certo.
Há quem possa discordar dessa filosofia de jogo. O fato é que a Espanha não a abandonou em momento algum. Nem mesmo quando estreou com derrota diante da retranqueira Suíça e ameaçou tornar-se o maior fiasco deste Mundial, já que vinha como uma das favoritas. Naquela ocasião, ainda no calor da derrota, Fernando Torres disse que não iriam renegar suas ideias apenas por um insucesso. É isso mesmo: a Espanha tem uma ideia de futebol, por paradoxo importada da Holanda, a quem derrotou na final, e não a abandonou ao primeiro tropeço. Perseverou. E foi recompensada. É preciso confiar em suas ideias. Esse é um ponto.
O outro é que faltou a esse time tão técnico aquele grão de loucura, aquela imprevisibilidade que só pode vir dos grandes craques, dos foras de série que os europeus chamam de fantasistas. Esse time, baseado no Barcelona, não tem um inventor. Caso tivesse, poderia ter resolvido seus jogos com mais facilidade. Não andará longe da verdade quem disser que a seleção espanhola é um Barcelona sem o gênio de Lionel Messi que, no time catalão (e só nele), faz toda a diferença.
(Caderno da Copa 2010, 13/7/10)