O filme, além do conteúdo polêmico, serve-se de uma estrutura complexa para se desenvolver. Apela para a metalinguagem ao encenar a feitura de um filme que trata exatamente desse mesmo assunto. Assim, em boa parte do seu desenvolvimento, trata-se do clássico caso do "filme dentro do filme".
Dessa maneira se compreende a variação da qualidade de filmagem. Começa-se com uma câmera nervosa, "na mão", de textura jornalística nas cenas em que um motel é invadido e três pessoas detidas pela polícia - uma mulher, um padre, um deficiente físico. Os policiais buscam evidências, tais como uma camisinha cheia de esperma, para provar que houve relação sexual e que portanto algum tipo de delito foi cometido (não se sabe como é a legislação coreana, mas fala-se em prostituição legal e ilegal).
Mas não é essa a questão, evidentemente, e sim os limites (se existem) do humanismo praticado até as últimas consequências. Ou não seria essa discussão mero pretexto para abordar um tema difícil e fazê-lo com suficiente crueza para que a obra encontre seu nicho no circuito de arte internacional? Difícil dizer, pois seria especular sobre as intenções do diretor Kyong Duk Cho, neste que é seu primeiro longa-metragem. Fez para escandalizar ou porque sentiu necessidade de tratar de uma questão incômoda e portanto merecedora de reflexão? Impossível dizer, porque seria preciso entrar em sua cabeça. O que se pode, sim, dizer é que o filme tem problemas de estrutura, e se perde a pretexto de usar a metalinguagem, que, muitas vezes, é uma medida defensiva e não opção estética. E que tem dificuldades para terminar, entrando em finais que não se completam e se alongam inutilmente. Como um coitus interruptus.