O Ministério da Saúde faz de tudo para banir o cigarro da rotina dos brasileiros.
Mas a Receita Federal, não.
Um pede para aumentar o preço. Outro prefere o cigarro barato, para arrecadar mais impostos e desencorajar o contrabando.
No Brasil, o maço de Marlboro custa R$ 4,25 [caixinha R$ 4,75].
Descobri tuitando:
Em Nova York custa R$ 20,80 (US$ 13), em Paris, R$ 13,80 (6,10 Euros), em Dublin R$ 18,10 (8 Euros) e em Londres, R$ 12,70 (5 Libras).
Parte do Governo se preocupa com nossos pulmões. Parte, com as contas. E nos prefere viciadões.
Infame.
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Foi tensa a semana para um governo obcecado pelo sigilo eterno de seus documentos.
O grupo hacker LulzSecBrazil provou a vulnerabilidade de sites brasileiros, com ataques em vários fronts, inclusive aos mais protegidos, como os da Infraero e Petrobras.
De alguns, roubou informações. No domingo, mobilizou outros grupos para protestar "contra o governo corrupto e pela liberdade de expressão".
Pânico no regime alérgico à transparência. PF e Abin entraram no caso. Anunciaram que os invasores podem pegar até cinco anos de prisão.
Há dois meses, o LulzSec ficou conhecido por invadir a rede do PlayStation (Sony). Vazou dados de milhões de usuários. O serviço ficou dias fora do ar. Assumiu também ataques aos sites do FBI e CIA.
LulzSecBrazil é um braço brazuca. Atacou na semana sites da Presidência, Senado, Portal Brasil, Receita Federal, Ministério do Esporte, Cultura e, por fim, do IBGE, que chegou a ser desfigurado.
Através do Twitter, sua plataforma de divulgação, emitiu o comunicado declarando "guerra aberta contra todos os governos, bancos e grandes corporações do mundo"
"O objetivo é expor corrupção e segredos obscuros", protestaram.
Se hacker era o perfil de um moleque irresponsável, solitário e despolitizado que, para mostrar sua voz e conhecimento, burlava a segurança de grandes instituições, hoje, inspirado em Julian Assange (Wikileaks), pode se transformar num projeto ideológico de fiscalização de poderes corruptos, através de um delito de desobediência civil.
A maior parte dos ataques foi do tipo "denial of servisse": um grande número de acessos simultâneos praticados por "robôs", ou "zumbis", computadores infectados de usuários que, sem saberem, viram munição, travam sites.
Nesta guerra invisível, os usuários comuns infectados são fuzileiros sem saberem.
Representantes do LulzSecBrazil confirmaram para o UOL: "Queremos mostrar a podridão que está encubada no Governo. Estamos reunindo documentos obtidos nas investidas que fizemos e iremos colocá-los à disposição para que todos os brasileiros vejam e se juntem a nós."
Uau!
Parafraseando Churchill, "nunca, muitos dependeram de tão poucos".
O The Guardian, depois de uma conversa sigilosa, descobriu que o LulzSec original era um grupo de seis a oito membros, desorganizado e obcecado pela cobertura da imprensa.
Mas não sabemos quem são seus seguidores brasileiros, quantos grupos existem e se agem sob um comando.
No imaginário, podemos criar o seguinte cenário. Ou propor ações como:
1. Atacar computadores do Palocci e descobrir, enfim, a fórmula do sucesso do enriquecimento ligeiro.
2. Descobrir se o Itaquerão sai, invadindo o site da empreiteira, ou será apenas um terrenão devidamente terraplanado.
3. Revelar finalmente as contas da Infraero, quanto faturam com o monopólio do Free Shop e por que só vendem produtos para playboys.
4. Entrar no site da Receita e revelar a lista de ricaços que não pagam impostos.
5. Diminuir os salários de senadores, deputados e vereadores.
6. Demitir funcionários fantasmas e parentes de senadores, deputados e vereadores.
7. Invadir sites de grandes bancos e distribuir o lucro entre seus correntistas.
8. Encomendar Viagra a todos os aposentados cadastrados pela Previdência.
9. Dobrar os salários de professores, policiais e bombeiros.
10. Isentar de impostos livros, ingressos para cinemas, teatros, queijos e vinhos.
11. Desligar as usinas atômicas e desviar a verba das futuras para bibliotecas.
12. Abrir todos os arquivos do Governo brasileiro.
13. Descobrir no computador de Sasha se ela aprendeu que "cena" se escreve com cê.
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Reparou que ultimamente tem gente que logo que se senta na mesa do bar diz "preciso fazer meu check-in" e clica num ícone do celular?
É no programa Foursquare, considerado ainda mais uma ideia tola, aplicativo de rede social para smartphones que localiza o usuário através do GPS, inventado em 2009 por um bunch de nerds, que conhece a linguagem e idealiza o que pode se transformar numa mina de dinheiro.
Fazer um check-in é indicar para a rede onde você está. Além dos amigos saberem em que pé-sujo você enxuga as mágoas e umas garrafas, você entra num ranking de clientes que já passaram pelo mesmo.
Quem mais esteve no local vira "prefeito". Ideal para amainar a dor de alguns solitários que baixam os aplicativos mais doidos e inúteis. Inúteis?
Foi assim que tecnofóbicos receberam o Orkut aprimorado com bloqueios, ranking e página comum, chamado Facebook, e o miniblog em que Xuxa pode expor a sua rotina em 140 caracteres, e Sasha seu problema de ortografia, chamado Twitter.
No começo, são tolices criadas por anônimos, que não servem para nada, a não ser demonstrar a futilidade de uma geração sem ideologia ou cultura vertical. Até se transformarem em meses no meio dominante de troca de informação de todo o planeta.
Pois o Foursquare pode ir bem além do que seus inventores, Dennis Crowley e Naveen Selvadurai, planejaram.
Pode se transfigurar no programa de milhagem do mercado de lojas, bares e restaurantes. Lucram consumidores e vendedores.
Uma franquia americana de restaurantes de lagostas já sacou o potencial e passou a cadastrar os clientes que fazem check-in. Para oferecer descontos, promoções e mimos aos mais assíduos.
Pois, como as Companhias Aéreas, o que se quer é a preferência do usuário. E nós, acumular milhas. Aonde quer que se vá agora, faremos um check-in no celular para aguardar um atendimento prioritário, já que saberão quem são os bons fregueses.
Mais uma tolice que pode bombar.
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