
Hoje, faz 50 anos que Emílio Garrastazu Médici tomou posse, tornando-se o 28º. presidente do país.
Costuma ser imitado pelo atual, Jair Bolsonaro: patriotismo exacerbado, ambição, militarização do poder, falar do jeito que o povo entende e ir pessoalmente aos estádios de futebol.
Sob Médici, o Brasil viveu um paradoxo doloroso, já que cresceu a taxas invejáveis, graças à uma dívida externa que estourou em Figueiredo, obras ambiciosas de infraestrutura, do metrô de São Paulo, Itaipu, Ponte Rio-Niterói à Transamazônica, junto a uma repressão política sem dó.
Tortura, execuções, desaparecimentos políticos tornaram-se método.
O Exército tomou para si o controle da chamada subversão política em impiedosas agências espalhadas em seus quarteis, o DOI-Codi.
Na economia, com o Milagre Brasileiro, que já recebeu elogios até do ex-presidente Lula, o PIB crescia em média 11% ao ano. Mas a dívida externa, três vezes mais.
Médici era do "movimento", como se referiam ao Golpe de 64. Teve papel no levante, quando se aliou às tropas revoltosas com sua poderosa e estratégica Academia Militar de Agulhas Negras, na tríplice fronteira SP-RJ-MG.
Na TV e rádios, uma enxurrada de jingles patrióticos. Dos americanos, copiou a ideia do lema BRASIL AME-O OU DEIXE-O, criado para os jovens que fugiam ao Canadá para não se aliarem durante a Guerra do Vietnã.
Intervenção na economia se intensificou. Criaram as gigantes estatais: Embraer, Infraero, Telebras, Embrapa, Embratel, Eletrobras, Itaipu, BNH. A guerrilha foi debelada. Porém, a que preço?
No seu governo, foi quando a sociedade civil começou a se reorganizar e articular um basta à censura, tortura, autoritarismo. A esmagadora vitória da oposição em 1974, no primeiro ano do sucessor, Geisel, foi humilhante.
Os militares recrudesceram a censura e baixaram a Lei Falcão, e depois o pacote de Abril, retomando o controle do Congresso.
No Governo Médici, Bolsonaro cresceu. O populismo autoritário é semelhante. A indisciplina e o apoio a ações violentas de combate ao inimigo e a militarização do governo, também.
Em ambos, a paranoia domava o humor presidencial.
Mas a verve, os olhos esbugalhados, o descontrole verbal, comprovados ontem no live de 23 minutos que fez no Facebook contra a Rede Globo, a quem acusou de "canalha", "patifes", socando a mesa, num discurso repetitivo, ameaçando cassar a licença da emissora, que vence em 2022, lembram outro presidente, que não terminou o mandato.
Vi o live até o fim.
Parece um pai à beira do colapso.
Não usa palavras histriônicas de Collor. Fala uma linguagem que seu eleitor entende.
Mas a guerra está declarada: será ele contra (quase) todos. Isso nunca acabou bem