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Marcia Xavier em busca da imagem perfeita

Artista escolhe três mostras em cartaz na cidade para comentar a relação da fotografia com as artes plásticas

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Na Estação Pinacoteca, em frente da série Jackie, a artista plástica Marcia Xavier observa o azul. "É ele que dá puro mistério", diz, numa referência ao uso que Andy Warhol faz da cor na série de serigrafias com reproduções de imagens de Jackie Kennedy. "O trabalho é lindo, fala da morte, mas Jackie também está rindo."Jackie faz parte da mostra Andy Warhol - Mr. America. De 1964, é uma espécie de sucessão de "slides" de imagens da viúva de John F. Kennedy antes e depois do assassinato do presidente americano. "Com Warhol a fotografia se expande: sai do registro fotográfico mais banal, do jornal, e vira essa coisa com a cor. Ele faz uma edição das imagens mais acessíveis, de celebridades ou uma cena de racismo, cria sequências que as transformam em histórias", continua.A fotografia está na gênese da produção de Marcia Xavier: seu pai, aviador, tinha por costume registrar vistas aéreas em fotografias e filmes super 8 e desde menina ela se viu tomada por essas imagens, que até hoje ecoam em seu trabalho. "Fotografia, para mim, não é apenas a do ato fotográfico", define.Quando convidada pelo Estado a passear por exposições de fotografia em cartaz na cidade - ultimamente, a oferta é cada vez maior -, ela de cara sugeriu a visita à retrospectiva do artista pop americano na Estação Pinacoteca (Lg. General Osório, 66, até dia 23/5). Em seguida, interessada na relação entre fotografia e artes plásticas, esteve na mostra de outro americano, Gordon Matta-Clark, no Museu de Arte Moderna de São Paulo (Pq. do Ibirapuera, portão 3, até dia 4/4); e, por fim, conferiu as belas fotografias de Maureen Bisilliat na Galeria de Arte do Sesi (Av. Paulista, 1.313, até dia 4/7).Em Warhol, Marcia vê apropriações "apaixonantes". "Ele fez tantas variações e seus ícones, como Marilyn Monroe, ficaram. Seu casamento entre imagem e cor foi sempre feliz."Relações. "Já com Maureen acontece o embate direto com a fotografia. O formato e a densidade do preto e branco, emocionante, são uma marca registrada", diz Marcia sobre belos retratos da fotógrafa que, na exposição, estabelecem relação com a literatura de Guimarães Rosa, Jorge Amado e João Cabral de Mello Neto, entre outros."Na exposição da Maureen, as fotografias dos índios do Xingu, me fazem lembrar das obras de Pierre Verger na Bahia. É interessante que os dois, estrangeiros, têm um olhar próximo e contundente sobre assuntos tão nossos, como se fizessem parte daqueles lugares." Já em Matta-Clark, a fotografia é a maneira de revisitar performances/ações conceituais do artista (entre as mais famosas, as de cortes em edifícios) realizadas nos anos 1970. "Acho genial o registro dos cortes redondos de um apartamento em Nova York. O registro de Matta-Clark às vezes se transforma ele mesmo em outra obra", conclui Marcia.

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