Duas vezes por ano a história se repete e Nova York dá início ao principal circuito da moda mundial. São quatro semanas nas quais grandes marcas de moda tradicionais e novos expoentes apresentam suas coleções de prêt-à-porter, que depois são expostas nos showrooms para compradores do mundo todo e, em poucos meses, tomam conta das lojas, das ruas e dos feeds das redes sociais. As capitais da moda, como são chamadas as cidades que sediam os eventos, fervilham com o novo, e curiosamente, o estilo das cidades se reflete na passarela. E cada uma mostra uma face da moda. A de Londres, normalmente, é experimental e ousada, a de Milão, elegante e sóbria, e a de Paris, ultraglamurosa e cobiçada. Mas tudo começa em Nova York com um tom mais comercial e prático e, dessa forma, a Semana de Moda americana é um ótimo termômetro para o estilo que, de fato, veremos ganhar as ruas.

Em Nova York há algumas temporadas vimos o oversized reinar absoluto com moletons, calças e camisetas muito maiores que o corpo e mais recentemente foi a vez da alfaiataria desconstruída, confortável e em tons claros. Essas estéticas pautadas em volumes marcantes – e muitas vezes exagerados – deram lugar nesta estação a roupas ajustadas e peças que deixam a forma do corpo humano em destaque.
Na alfaiataria de Peter Do, marca nova que é um dos nomes mais quentes do momento, tudo é mais acinturado e alongado. Blazers e terninhos impecáveis e afiados vêm completamente abotoados e desenham silhuetas lânguidas em quem os veste, efeito este que é potencializado ainda mais na passarela de Proenza Schouler que, além de ajustar suas peças, também posiciona babados estratégicos nos punhos e barras que deixam a imagem ainda mais linear e funcionam quase como pedestais para quem as usa.
A alfaiataria da estação ganha coletes, cuja falta de detalhes ou mangas reforça ainda mais a ideia de que o corpo é o foco do momento. Junta-se a isso o fato de que outra forma de mostrar os braços foi uma constante nas passarelas de Nova York: as regatas. Destaque para as regatas de Dion Lee, estilista australiano que vive nos Estados Unidos e trouxe profusão de alcinhas, que ora vinham retas e em outros momentos na modelagem nadador – com cavas que mostram mais do torso.
Lee, no entanto, não foi o único a se utilizar das pequenas tiras de tecido para sustentar blusas e vestidos e as regatas permearam a imensa maioria das coleções de forma geral. Elas vêm com transparências, modelagens cropped, cheias de detalhes ou então minimalistas. Vestem do jovem moderno – foco absoluto da grife Eckhaus Latta – à mulher que busca um visual mais elegante – essas podem olhar para coleções de marcas como Brandon Maxwell e Gabriela Hearst.
Outro pilar dos desfiles foi a valorização máxima do ser humano através da roupa. O brilho espelhado e uma explosão de cores destacam o indivíduo na multidão e esbanjam personalidade. Quem também faz isso muito bem é Ulla Johnson, Marni e Prabal Gurung, que unem a silhueta alongada e shapes ajustados a peças que chegam a combinar mais de seis cores em um look só.
O que quase não vimos em NY foram acessórios. A valorização humana é tanta que brincos, colares, pulseiras e anéis parecem ter sido esquecidos e até os sapatos quase não aparecem, se camuflam nos looks ou então são simplesmente escondidos pelas barras das calças que se arrastam no chão. O que fica desta semana? Um aroma de renovação fashion no ar.